Perdemos hoje o psicanalista e parceiro Antonio Lancetti

Antonio Lancetti em  Psicanalistas Que Falam. Foto: Divulgação
Antonio Lancetti em Psicanalistas Que Falam. Foto: Divulgação


Personagem central da luta anti-manicomial no Brasil e especialista em ações de enfrentamento da dependência do crack, o psicanalista argentino Antonio Lancetti era um dos profissionais que atuavam como consultor do programa De Braços Abertos em São Paulo e frequente colaborador da Brasileiros.

Nascido na Argentina e exilado político no Brasil desde 1979, Lancetti mergulhou na causa da saúde mental, liderando a intervenção que transformou Santos na primeira cidade brasileira sem manicômios. Consultor do Ministério da Saúde, trabalhava com a problemática das drogas e do crack — o grande desafio para as cidades e para a saúde pública em São Paulo e no Brasil. Sua significativa contribuição inclui também a direção da coleção SaúdeLoucura, hoje com 50 títulos, publicada pela editora Hucitec. É autor de “Clínica Peripatética” e “Contrafissura e plasticidade psíquica” entre outros títulos. 

Antônio Lancetti formou-se em 1975, época de grande efervescência política em seu país. Ainda como militante estudantil, começou a ler a obra de Marx ao mesmo tempo em que descobria Sigmund Freud. Embora houvesse grande valorização da psicanálise, surgia no cenário argentino a discussão sobre as práticas de grupo. 

Nesse contexto, Lancetti começou a trabalhar em instituições públicas, embora vivesse o conflito de grande parte dos analistas de esquerda de sua geração. Viveu com um pé no consultório particular e outro no serviço público. No hospital onde trabalhava na Argentina, atuava com crianças. Como era grande o número de pacientes, os profissionais começaram a reuni-los em grupos, constatando melhoras consideráveis.

Foi nesse clima que veio para o Brasil, onde sua primeira atividade foi a apresentação de um trabalho em um congresso internacional sobre psiquiatria e pediatria, em que questionava a narrativa da psicanálise. Embora continuasse atendendo em consultório particular, manteve suas atividades voltadas para o serviço público. Foi o primeiro supervisor da Coordenadoria de Saúde Mental do Estado, na administração Franco Montoro. Foi professor do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, e do Instituto Brasileiro de Psicanálise (Ibrapsi), no Rio de Janeiro, atividades que deixou de exercer para ministrar um curso para formação de agentes de saúde mental com o objetivo de criar quadros para o trabalho na saúde pública. 

Recentemente foi o primeiro entrevistado da série intitulada Psicanalistas Que Falam. Lancetti Brasileiro, idealizada pela psicanalista Heide Tabacof, sua companheira, o projeto reuni registros com profissionais notórios por levar os conceitos da psicanálise ao campo social e humanitário. Todos os capítulos estão disponíveis gratuitamente no Youtube. 

Leia matéria sobre o projeto Psicanalistas Que Falam – Lancetti Brasileiro  e o último artigo de Lancetti na Brasileiros defendendo a continuidade do De Braços Abertos.


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