Por onde anda a chuva?

Falar sobre a secura e a temperatura anormal em São Paulo é chover no molhado, com o perdão da brincadeira. São 63 dias sem chuva e o Estado, principalmente a capital, vai alcançando níveis preocupantes de umidade no ar.

Conversamos com o meteorologista Marcelo Schneider, do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), para entender melhor sobre as causas e os efeitos da falta de chuva em São Paulo.

Estamos enfrentando um inverno quente e muito seco, alcançando a marca de segundo ano mais seco na capital paulista. Ao que você atribui essa anormalidade?
Este ano a gente teve um início de inverno bastante chuvoso, o mês de junho foi de muita chuva. Em julho o tempo foi secando e a anormalidade foi surgindo em agosto e nesse início de setembro. A região sul do País até a região central, marcaram um dos agostos mais secos da história. Como você falou, marcamos aqui no INMET da zona norte, na capital, o segundo agosto mais seco já marcado, perdendo apenas para 2007. Tratando-se de dias consecutivos sem chuva, já passamos de 60 dias, já é o terceiro recorde registrado, atrás de perídos registrados em 1985 e 1961. A explicação para esse ano foi um bloqueio atmosférico com intensidade acima do normal e a brusca variabilidade do clima entre 2 e 3 meses, como falei anteriormente, junho foi muito chuvoso, acima do normal, o que intensificou a seca que viria na sequencia. É bem provável que esse período que enfrentamos agora termine daqui a pouco, quarta-feira a chuva já deve aparecer e, de quinta até o final de semana, a chuva comece a cair com intensidade em grande parte de São Paulo, Minas Gerais e até no Centro-oeste. Rio Grande do Sul acabou de ter bastante chuva. A verdade foi que não tivemos frente fria passando em agosto, elas ficaram bloqueadas entre o Uruguai e a Argentina. O bloqueio atmosférico não tem uma causa muito definida para explicá-la, o fenômeno El Niño ainda está se formando, não pode ser considerado a causa principal. Acho que resumindo, podemos basicamente apontar o contraste meteorológico mesmo, os níveis recorde de chuva em junho precederam a o tempo seco em julho e principalmente agosto e início de setembro.

A interferência do ser humano na natureza, no caso, a poluição?
Tem estudos que identificam a poluição na formação das nuvens de chuva, quando as nuvens de chuva se formam elas precisam de impurezas, poluentes na atmosfera. Mas esses poluentes jogados pelas indústrias interferem no que chamamos de núcleos de condensação. Outra questão importante são as chamadas ilhas de calor, provocado pelo processo de urbanização desenfreado, desmatando a vegetação, o que acaba provocando o fenômeno do aquecimento local. Antes isso acontecia em grandes cidades como São Paulo, mas hoje, pequenas e médias cidades também enfrentam o aquecimento local, o aumento da temperatura. Na capital São Paulo, subimos algo em torno de 1,5ºC nossa temperatura desde a década de 1940, 1950, quando a urbanização mais se intensificou. Outro ponto importante falando em poluição e secura do ar, são as queimadas dos canaviais. No inverno, com o tempo seco e o vento virando de norte, aquela poluição das queimadas da fumaça da cana e das queimadas na região central do Brasil e norte de São Paulo e trazem para a capital, o vento transporta, isso contribui para piorar a qualidade do ar e aumentar mais a temperatura.

Quais são as suas recomendações para que consigamos minimizar os danos para nossa saúde com essas condições climáticas?
Nos períodos de extremo calor e tempo seco de agosto e setembro, recomenda-se que nos horários mais quentes, entre 10h da manhã até 16h30, 17h, evitar exercícios físicos prolongados e intensos como correr. Se pede para que façamos essas atividades bem cedo ou no final da tarde. A maioria das pessoas acha que o período complicado é o do meio-dia, mas não é verdade. Temperatura elevada associada a umidade baixa, vira uma arma contra o aparelho respiratório. Água não é nem preciso falar, é necessário beber bastante líquido durante o dia. Vale até colocar aquela bacia de água no quarto durante a noite, ajuda a umidificar ambientes fechados e é muito indicado para quem sofre de problemas respiratórios.

Se o inverno vem batendo recordes de temperatura e estiagem, o que esperar da primavera que já está chegando e do verão ?
Temos uma previsão bem atualizada da primavera, onde esperamos uma reversão desse quadro, se faltaram frente frias, ou se elas praticamente não vieram nesse último mês de agosto, elas devem aparecer com mais frequência agora na primavera, o que é curioso. Entre final de setembro e o início de dezembro, as frentes vão chegar mais intensas, vindas de região sul e umidade da região amazônica também vai estar mais presente em São Paulo. Quando esses dois climas se encontram, as chuvas volumosas acontecem.


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