Prefeitura do Rio expulsa famílias que ocupavam terreno abandonado há 20 anos

Desocupação de terreno de fábrica desativada na parte baixa da favela da Mangueira, na zona norte da cidade - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Desocupação de terreno de fábrica desativada na parte baixa da favela da Mangueira, na zona norte da cidade – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasi

Famílias que ocupavam um terreno no Morro da Mangueira, zona norte do Rio, foram retiradas na última sexta-feira (6) por agentes da Guarda Municipal. Barracos em madeira que haviam sido erguidos na área foram destruídos por um trator, também usado para cavar buracos no terreno, para impedir novas ocupações.

A área que no passado abrigava uma fábrica, abandonada há cerca de duas décadas e demolida faz pouco tempo, estava tomada por mato e capim alto, gerando focos de mosquitos e ratos, segundo os moradores da comunidade.

As pessoas que ocuparam o terreno argumentaram que não têm mais condições de pagar aluguéis, na faixa de R$ 400 a R$ 600, por um imóvel na Mangueira, pois grande parte perdeu o emprego por causa da crise econômica. “Os moradores querem este terreno para construir suas moradias. Aqui ninguém quer viver de aluguel. Estava tudo abandonado, com foco de dengue”, disse Carlos Alexandre dos Santos, conhecido como Paulista. Ele vive atualmente em uma invasão, após perder a casa onde morava, no alto do morro, em uma forte chuva em 2010.

A questão da alta no valor dos aluguéis também motivou o pedreiro Marco Antônio da Silva a tentar ocupar a área. “Eu pago R$ 600 de aluguel, mas agora estou parado [desempregado]. Estou lutando por um pedaço de terreno, de modo a poder morar com minha família. Nós fizemos esta ocupação porque a gente precisa”, disse ele, que mora com a esposa e um filho.

O desemprego, principalmente no setor da construção civil, deixou muitos moradores sem renda. “Eu ocupei o terreno porque eu preciso. Tenho uma filha de seis meses. Moro com minha esposa e minha avó. Estou desempregado e não tenho mais como pagar o aluguel de R$ 400. Já agarrei um pedacinho ali, vou botar o meu barraco e morar”, disse o ajudante de pedreiro Fábio Barbosa da Silva.

Do lado de fora do terreno, que foi tomado por guardas municipais e cercado por tapumes, muitas mulheres ficaram sentadas na calçada, com seus filhos pequenos. “O povo quer moradia, não queremos confusão. Eu tenho cinco filhos e duas netas. Preciso ocupar e vou ocupar de novo”, disse a dona de casa Simone Cristina.

O pedreiro Luiz Vieira da Silva estava inconsolável, sentado ao lado dos seus únicos pertences, retirados às pressas para não serem esmagados pelo trator da prefeitura. “Eu estava terminando de fazer o barraco e fui despejado do terreno, estou na rua. Não tenho como alugar nada. Vim para cá, mas não tive sorte”, disse ele, que morava em uma obra, mas precisou deixar o local.

A Secretaria de Ordem Pública (Seop) explicou que a ação visou retirar o loteamento de uma área pública e disse que não houve violência, pois as pessoas saíram pacificamente. A Secretaria de Desenvolvimento Social enviou nota, dizendo que todas as pessoas foram atendidas pela equipe de assistentes sociais, que ofereceu abrigamento em uma das unidades da rede municipal, mas ninguém aceitou o acolhimento.

A prefeitura do Rio não respondeu se há projeto habitacional para o terreno nem qual será a destinação da área.

*Com Agência Brasil


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