Projeto de maratonas em assentamentos do MST começa neste sábado no Pernambuco

Jornalista Rodolfo Lucena e João Pedro Stédile, líder do MST - Foto: Eleonora de Lucena
Jornalista Rodolfo Lucena e João Pedro Stédile, líder do MST – Foto: Eleonora de Lucena

Desde o início de julho, o jornalista Rodolfo Lucena só consegue pensar em uma coisa: o projeto Maratonando com o MST, em que, além da organização de corridas em assentamentos do movimento sem-terra espalhados pelo País, pretende realizar reportagens em texto, áudio e vídeo sobre a situação das pessoas que fazem parte do grupo. Neste sábado (28), o projeto começa pra valer, com uma corrida por parte da Estrada da Reforma Agrária, em Pernambuco, onde estão alguns dos mais importantes assentamentos.

“Em cada campo, vou correr o quanto puder, girar pela área de produção, encontrar parceiros de caminhada, atravessar trilhas do campo para a cidade, bisbilhotar lares e escolas. Vamos conversar com crianças e adultos, mulheres e veteranos, fazer fotos, produzir vídeos”, escreve ele no texto de abertura do blog Maratonando com o MST, onde vai divulgar tudo o que ver, ouvir e compreender.

Lucena, de 58 anos, é um veterano jornalista aposentado que, há cerca de 15 anos, descobriu na corrida um meio de se livrar do sedentarismo. Mais do que isso, conseguiu aliar o esporte com o jornalismo. Em 2006, ele criou a primeira página jornalística dedicada ao gênero em um jornal de grande circulação, na Folha de S. Paulo, onde trabalhou até o ano passado. Aposentado, está terminando de escrever seu terceiro livro, Alce do Alasca, sobre sua primeira corrida depois que parou de trabalhar oficialmente. Ele já escreveu Abertura 1812 (Editora Movimento), em 1976, e Maratonando – Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes (Editora Record), em 2006.

Abaixo, trechos de uma conversa rápida com Lucena antes da viagem:

Brasileiros – Como surgiu a ideia de organizar maratonas em assentamentos do MST?
Rodolfo Lucena – A ideia foi mostrar, pela ótica de um corredor, de uma pessoa de fora do movimento, o trabalho que eles estão fazendo. Fiz algo semelhante quando no projeto São Paulo 460, correndo 460 quilômetros pela cidade ao longo de vários dias, indo para lugares menos conhecidos, entrevistando pessoas e falando da vida na metrópole. A ideia é basicamente isso: trazer para o público um trabalho que é pouco conhecido. Vemos muito a imagem dos militantes do MST, mas pouco o trabalho feito nos assentamentos, onde está a vida em si desse movimento.

Como foi o seu contato na apresentação do projeto?
Foi como as outras coisas que fiz: mandando email. Já conhecia o João Pedro Stédile, porque ele é gaúcho e eu também sou, mas foi tranquilo. Enviei minhas ideias, as coisas que eu já tinha feito nas áreas de jornalismo e corrida, marcamos uma reunião – que se tornaram vários encontros depois para construir o projeto – e depois começamos. A recepção deles foi ótima. O João Pedro entendeu que a ideia é levar a ideia de atividade física, saúde e lazer para os acampamentos.

É a primeira vez que o projeto sai do campo das ideias. Estão pensando no futuro já?
É um projeto que está tomando forma. Vamos iniciar agora e ver no que vai dar. É uma primeira etapa porque o projeto pretende fazer uma radiografia do MST pelo Brasil. Por isso, vamos visitar algumas regiões do País correndo em assentamentos mais emblemáticos, importantes politicamente e economicamente para o movimento. As corridas vão ser como os meus treinos do dia-a-dia: vou sair de manhã, correr… Em algumas teremos companhia, em outras terá algo mais estruturado. Mas nada muito rígido.

Companhia, inclusive, de assentados?
Claro! A ideia é correr com eles, fazer entrevista, vídeos, enfim. Fazer uma série de reportagens sobre esse processo. Temos a ideia de levar convidados também, seja corredores conhecidos, seja outras pessoas que se interessem, como artistas. Já estamos fazendo até alguns contatos.

Elas vão acontecer ao redor do acampamentos?
Nós vamos ter corridas nos assentamentos e, dependendo do local, variações do tipo: da fazenda para a escola rural, ou da fazenda para o centro da cidade mais próxima. A ideia é fazer corridas que nos ajudem a criar esse quadro que queremos ter, de observar a existência do movimento nas regiões.

Em Pernambuco está tudo pronto?
Eles vão me receber quando eu chegar e vamos fazer a reunião para ver dia por dia. No sábado começamos tudo. Vamos correr pela rodovia que é conhecida como “estrada da reforma agrária” pela quantidade de assentos importantes ali no entorno. Depois, vamos passar pelos assentamentos e pretendemos correr em alguma prova da região.

Você já convidou algum atleta conhecido para participar?
Lá vai participar o Edson Amaro, o melhor brasileiro na classificação da maratona do Rio de Janeiro do ano passado. Ele tem um treinador e uma equipe de corrida em Petrolina. Ele provavelmente estará em um dos eventos.

Depois de Pernambuco tem outro confirmado?
Não, ainda não. A gente dividiu em regiões e vamos vendo. A expectativa é que o próxima seja no Rio Grande do Sul no início de novembro. Depende muito do calendário deles e das coisas do meu trabalho também.

Qual foi o motivo da escolha pelo MST quando decidiram fazer um projeto com movimento social?
Me parece que o MST é um dos grandes trabalho sociais que o Brasil tem hoje. É um trabalho fabuloso de inclusão social, mas não apenas disso: eles são importantes para a economia do Brasil, porque ter mais gente na produção aumenta o desenvolvimento do país. É um movimento social que tem importância por muitas razões.


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