Thoroh de Souza, professor e coordenador do Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno e Nanomateriais – MackGraphe, segura um simples lápis para explicar o material que deverá revolucionar a indústria e a próxima geração de produtos eletrônicos.
O grafeno, material derivado do carbono – o mesmo encontrado no lápis, foi isolado pela primeira vez em 2004 por dois cientistas russos. “Eles utilizaram uma ferramenta muito sofisticada, uma fita adesiva, um durex”, brinca durante a 4ª edição do Seminário Inovação Brasileiros.
Souza explica que com a fita adesiva, os cientistas Andre Geim e Konstantin Novoselov conseguiram esfoliar o material, partindo da ideia de que um lápis, por exemplo, deixa um rastro de grafite sobre o papel. A inovação e o potencial que a descoberta pode gerar para a humanidade deu aos dois pesquisadores o Prêmio Nobel de Física de 2010.
“O grafeno nada mais é que uma folha plana composta de átomos de carbono densamente organizadas numa rede cristalina num formato de favos de mel”, resume Souza. A espessura do grafeno é de um átomo. “E o que ele em de tão especial?”, questiona.
De qualidade superlativa, o grafeno conduz melhor eletricidade que o cobre. E diferentemente do silício, material responsável pelas últimas inovações da última década, o grafeno é puro, não exigindo processos de refinamento. Entre outras características, é mais resistente que o diamante, repele água, é antimicrobial e pode ser utilizado como suporte para vários tipos de outras células, inclusive, células tronco. Ele também geraria economias na própria extração do material. “Um quilo de grafite consegue produzir 100 gramas de grafeno”, lembra o professor.
Fora isso, o material consegue aliar as propriedades do plástico, por ser altamente flexível e transparente e também as propriedades eletrônicas do ITO, material utilizado para fazer telas touchscreen. Características que permitem imaginar e esperar por uma série de produtos que há décadas saíriam somente de roteiros de ficção científica.
Corrida pelo grafeno
A Coreia do Sul investiu US$ 300 milhões em estudos e desenvolvimento do material. Já Estados Unidos investiu US$ 100 milhões. No Brasil, o Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno e Nanomateriais começa a firmar os primeiros passos em direção a essa corrida. Segundo Souza, o MackGraphe investiu US$ 20 milhões da própria faculdade, US$ 5 milhões da FAPESP e US$ 400 mil do CNPq. “Se compararmos com os investimentos de fora é muito pequeno, se quisermos concorrer em escala global”.
Souza defende que o centro brasileiro de pesquisas tem a missão de investigar o material desde a engenharia aplicada. O centro já conta com forte colaboração do setor industrial na expectativa de gerar e desenvolver novas tecnologias que atendam as reais necessidades da sociedade. “Queremos ter o controle de todo processo, do centro vertical da produção, a obtenção do material até o desenvolvimento do dispositivo. Essa é a nossa missão”.
“Quando falamos em tecnologia perante a concorrência internacional, vale lembrar que todos os touchscreen que usamos são importados. Temos um déficit na balança comercial brasileira de seis bilhões de dólares. Não produzimos nada aqui nesse sentido. Estamos assim agora, mas temos que mudar”, conclui.
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