Antes de 2014, a pior crise de falta de água a afetar o estado de São Paulo tinha ocorrido em 2003, lembra Marussia Whately, uma das fundadoras da Aliança pela Água, organização da sociedade civil criada para propor soluções à crise hídrica atual.
No dia 1º de dezembro de 2003, o Cantareira registrava 1,6% da capacidade em volume útil. A recuperação total dos reservatórios só foi realidade cinco anos depois. Marussia estima que esse é o tempo mínimo para que o Cantareira se recupere da crise atual.
Antônio Carlos Zuffo, especialista em recursos hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que, mesmo com a chegada da chuva, o aumento do nível do Cantareira ainda vai demorar. A água da precipitação infiltra-se no subsolo, em um processo muito lento, a uma velocidade de milímetros ou centímetros por dia. “A água que se infiltrou hoje só vai chegar ao reservatório, dependendo do lugar em que ela caiu, dois, três ou até seis meses depois”, disse.
Como solução à crise que deve se alongar por anos, Marussia defende que o governo paulista repense a estratégia de investimento em obras e passe a reduzir as perdas de água provocadas por vazamentos e captação irregular. “Trabalhar no combate às perdas é uma forma de ampliar a oferta de água sem ter que construir, por exemplo, novas represas”, diz.
Em 2014, segundo a assessoria de imprensa da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), as perdas totais foram 30,5%, enquanto a média nacional foi 37%. O índice inclui as perdas físicas por vazamentos, que correspondem a 19,7%, e as perdas com “gatos”, fraudes e problemas em hidrômetros, que chegam a 10,8% do total. O padrão internacional de perdas físicas é 19,7%.
“A Sabesp tem investido cerca de R$ 6 bilhões no Programa de Redução de Perdas de Água no período de 2009 a 2020 e já atingiu redução de nove pontos percentuais nos últimos dez anos (um dos menores índices do país). Com essa diminuição, a companhia reduziu suas perdas em 9,2%, água suficiente para abastecer 2 milhões de pessoas”, argumenta a assessoria.
Uma das formas de cortar perdas, cita Marussia, é reduzir a pressão da rede, com o objetivo de diminuir o volume de água perdido por vazamentos, medida que já vem sendo adotada pela Sabesp. Essa estratégia, porém, pode trazer riscos. “Quando você diminui a pressão, aquele encanamento que está passando por outras regiões que tem, por exemplo, outro encanamento de águas fluviais ou esgoto, pode se juntar em alguma sucção. Isso pode acontecer, mas não vi nenhuma comprovação”, declarou.
A redução da pressão da rede também pode causar a falta de água em bairros da periferia paulistana. “Isso resulta na interrupção do abastecimento em algumas regiões, mas é uma medida menos brusca que a interrupção total do fornecimento. Na situação a que chegamos, essas medidas são aceitáveis”, disse Marussia.
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal, a presidenta da Sabesp, Dilma Pena, disse que parte da cidade passou por um contingenciamento de água pela diminuição de pressão, o que dificulta a água chegar a bairros mais altos ou afastados. “Isso é uma redução da pressão na rede para diminuir as perdas de água. A falta de água depende da reserva que, se é adequada, a família não ficará sem água”.
A CPI da Sabesp foi criada em agosto para analisar os contratos entre a companhia e a prefeitura de São Paulo. Dilma Pena explicou que a diminuição da pressão não significa racionamento, porque todas as redes estão abertas em tempo integral.
Segundo a assessoria de imprensa da Sabesp, a redução de pressão é uma técnica adotada desde 2007, como parte do Programa de Redução de Perdas. O plano envolve a implantação de válvulas de redução de pressão, a substituição de redes, as trocas de ramais, a pesquisa e os reparos de vazamentos, a substituição de hidrômetros, implantação de distritos de medição e controle, calibração de macromedidores e o combate a fraudes e às ligações clandestinas.
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