As imagens são patéticas. Como se fosse um pequeno documentário, funcionários da mineradora Samarco, empresa responsável por uma das maiores tragédias ambientais do mundo em 2015, comentam emocionados sobre a responsabilidade social e providencias tomadas por sua empregadora na região de Mariana (MG), devastada pela lama e rejeitos de minério que se desprenderam de uma barragem rompida em novembro do ano passado.
O custo do comercial foi de R$ 3,3 milhões, segundo cálculos do grupo Em Defesa dos Territórios Frente a Mineração, que levou em conta uma tabela de preços com os anúncios cobrados pela Rede Globo. Segundo a entidade, uma propaganda nacional de 30 segundos veiculada no intervalo do Fantástico custa R$ 550.200,00. O comercial da Samarco “É sempre bom olhar para todos os lados” tinha 1 minuto. Cada uma das três inserções, portanto, teriam custado R$ 1.100.400,00.
Por esta razão, o Ministério Púbico Federal de Minas pediu à mineradora explicações sobre as propagandas, uma vez que a companhia alega dificuldades para arcar com os prejuízos na região, mas desembolsa uma bolada em uma campanha publicitária. “Nós do Comitê vemos uma empresa disposta a investir o que for preciso em marketing e propaganda para tentar ‘limpar’ sua imagem suja pela lama criminosa das suas operações assassinas”, diz a Frente.
Pelas suas contas, o dinheiro usado no comercial permitiria à mineradora Samarco comprar 17 casas em Bento Rodrigues, ou pagar o salário mínimo mensal acordado com o MP, “que não tem sido cumprido”, a 3.750 pescadores atingidos. “Ou comprado ainda 3,3 milhões de litros de água mineral para a população de cidades como Governador Valadares, que não tem água segura para consumo humano na rede de abastecimento, pois o local de captação foi totalmente contaminado pela lama.”
Mesmo com todo o dinheiro gasto no comercial, muitos telespectadores não engoliram a propaganda. Desconfiados, mais de 50 pessoas fizeram queixas ao Conar, Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária.
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