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SP 461: Minha São Paulo

eu e sao paulo
Minha família é toda do Rio, onde eu costumava passar as férias. Meus primos e amigos cariocas tiravam sarro do meu sotaque e do meu jeito nerd – eu era muito branco e sardento, ficava supervermelho no sol e usava um par de óculos fundo de garrafa, que escorregava do nariz untado de hipoglós. Além disso, lia muito na praia, enquanto os outros surfavam.

Lembro de voltar pra São Paulo na velha Variant verde, pela Dutra, e ficar deprimido com a feiura crescente às margens da estrada, à medida em que íamos chegando. Eu queria desesperadamente ser carioca, morar perto da praia, falar com o s em som de x e exibir um peitoral bronzeado e habilidade sobre as ondas.

Com o tempo isso mudou completamente. O punk e o pós-punk dos anos 80, o Sesc Pompéia, a Mostra de Cinema, o Madame Satã e o Aeroanta me deram orgulho de ser paulistano. O cool tinha mudado de sinal. Em lugar do sol e da praia, o universo underground e noturno das ruas; em lugar da beleza panorâmica, a decadência urbana e criativa; no lugar das ondas, os palcos do rock alternativo.

Agora eram os cariocas que queriam ser paulistas. Muitos, inclusive, se mudaram pra cá e se tornaram grandes jornalistas, escritores, artistas etc. Desde então, mesmo não tendo nascido aqui, é só em São Paulo que eu me sinto à vontade. O tecido da metrópole já se imprimiu no meu DNA. Não seria capaz de viver em outro lugar.

Guardo cada canto em que vivi e andei com carinho: uma vilinha na rua Pelotas, uma casa na Vila Nova Conceição, bem antes de se tornar o bairro mais caro da cidade, uma casa no alto da Lapa, já sozinho, um apê em cima do Belas Artes, um apê na Frei Caneca, quando ainda era Boca do Lixo, um apê num predinho antigo perto do estádio do Pacaembú, e depois Sumarezinho, Vila Madalena e Perdizes. Minhas filhas moram em Campos Elísios e Campo Belo, meus pais no Itaim.

Hoje moro perto do Parque da Água Branca e do meu time, o Palmeiras. Não tenho do que reclamar, amo São Paulo!


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