A gente morava em um sobrado no início da Rua Pamplona, a 100 metros da Avenida Paulista. Meu pai comprou a casa na metade dos anos 1960 porque queria ficar perto da família dele. Era uma espécie de triângulo dos Cirenza – mãe e irmãs na Rua Dr. Seng e irmão na São Carlos do Pinhal. Todos imigrantes italianos, exceto o meu pai e a irmã caçula, que nasceram em São Paulo.
Naquela época, ainda existia o casarão dos Matarazzo — que a gente ficava imaginando, do lado de fora, como eles viviam com tanta riqueza –, os lagos na entrada do Parque Trianon — que não era gradeado–, o convento de freiras — que ficava onde hoje está o Maksoud –, o Hospital Matarazzo – meu pediatra, o dr. Crosso, atendia ali– e o campinho de futebol na esquina da Rio Claro – que era só para os meninos.
Na infância, a curtição era descer de carrinho de rolimã a Rua Silvia e pegar doce fiado na vendinha do seu Renato. Depois, quando ganhei minha bicicleta vermelha também ganhei um pouco de liberdade pelo bairro. Pedalar na Paulista era uma aventura (ainda é, mas agora não me arrisco), descer a Ribeirão Preto e encontrar os amigos, alcançar a Vai Vai… O duro era subir a Itapeva. Suado, sofrido. Mas valia a pena.
Por ali a gente também tinha o Oficina, o MASP, o Ruth Escobar. Depois, surgiram as boates gays na Rui Barbosa, o Madame Satã. Os cinemas. Nossa, eram muitos e muito perto de casa. Os da Gazeta, os do Gemini, o Astor, no Conjunto Nacional, o Belas Artes… A prainha. A escadaria do Bixiga para namorar… Tinha tudo ali. Até templo hare krishna tinha. A gente ia lá dançar e comer comida orgânica, uma novidade na época. Depois seguia para o Puppy’s, a lanchonete da Paulista que a gente acreditava ter o melhor x-salada da cidade. Contradições deliciosas que vivi no Bixiga.
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