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SP 461: Tantos anos e um paradoxo

 

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 Entre trânsitos meteóricos, enclaves fortificados, cultura grátis e comida cara, São Paulo pulsa. Uma das maiores cidades do mundo apresenta paradoxos em que ao mesmo tempo que sufoca, liberta – uns mais e outros menos. Entre o cotidiano violento da favela da espraiada e os restaurantes do Jardins existe um ecossistema composto por sotaques de todo o Brasil e do mundo. Se professam crenças das mais diversas, algumas mais e outras menos aceitas pelo resto da cidade.

 A dura poesia concreta das esquinas de São Paulo despertam até homenagens de baianos que optaram, ou foram obrigados a “optar”, pela cinza garoa. Uma das frases da música de Caetano Veloso apresentam com sutileza o paradoxo paulistano pois haverá algo mais marcante para a cidade do que “a grana que ergue e destrói coisas belas”?

Felizmente, a destruição promovida pela grana não consegue impedir o fortalecimento de iniciativas extremamente criativas e, como não poderia ser diferente, expressões de cultura e da revolta popular. O hip hop das favelas da zona sul não se intimida pelos enclaves fortificados do Morumbi, o monumento aos bandeirantes não passa despercebido pelo protesto dos indígenas.

São Paulo é a terra onde o empresariado fecha contratos bilionários e onde o rap se tornou compromisso. Os homens na estrada dividem espaço com os Chicago boys. A cidade é cinza no centro e colorida na periferia.

 Os 461 anos de cidade não foram construídos sem vítimas. Entre índios, rios e favelados, a construção da capital paulistana passou por cima de questões ambientais e sociais.

Não a toa que São Paulo é o berço do pixo (grafia usada pelos pixadores). A cidade em que o punk e o rap se encontram ainda sofre com incêndios criminosos nas favelas que são alvo da especulação imobiliária, imóveis incrivelmente caros e carros com mais condições de trafegar do que os ônibus.

Mesmo com homenagens da terra do acarajé, moradores da cidade que atrai migrantes por causa do mercado ainda utilizam baiano como sinônimo de brega. Mesmo abrigando uma pluralidade cultural rara de se encontrar, ainda querem fechar as portas para os migrantes.

O paradoxo paulistano permite que no mesmo dia aconteça uma manifestação pela divisão do território brasileiro e outra contra o genocídio da população negra. Cada um pode escolher seu lado, este que vos escreve tem lado, e quem não o fizer ainda precisa trabalhar na segunda-feira, com trânsito, calor, pancadas de chuva e sem luz.


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