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SP 461: Uma cidade de várias faces

eu e sao paulo
Já se passaram 4 anos desde minha chegada a São Paulo. E, desde então, tive momentos de alegria e decepção com a cidade.

Vinda de Marília, oeste paulista, cidade com cerca de 300 mil habitantes, ainda me lembro das impressões que ouvia de São Paulo: “é uma cidade perigosa!”, “as pessoas são indiferentes!”, “cuidado!”… 

Mudar-se para uma cidade com mais de 12 milhões de habitantes era, no mínimo, assustador. 

Apesar de tudo, empolgava-me saber que estava me mudando para um lugar com tamanha oferta cultural, principal motivação pela qual decidi me mudar para a capital paulista.

A minha primeira semana na cidade foi apenas o caminho de ida e volta do cursinho, o que significava ir da Avenida Paulista até a Avenida da Liberdade, e sem nunca sair de casa à noite. 

Mas depois do primeiro mês, percebi que o medo era mais psicológico do que real, que não havia um perigo aparente que em Marília  já não corresse. Foi então que percebi algo grave em São Paulo: o medo que afasta as pessoas das ruas.

De fato, estamos sujeitos à violência todos os dias: houve uma pedra que quebrou a porta do ônibus a caminho do trabalho, mas isso não me desanimou. Quero ver São Paulo mais segura e inclusiva, e o medo não ajuda a resolver os problemas, ao contrário, ele faz com que os ignoremos.

Também havia o receio de ter que construir novos laços em um local conhecido pela frieza do cotidiano. Nada que em duas semanas eu já não tivesse resolvido e feito novas amizades. Mas, às vezes, a cidade ainda me parece solitária, talvez pela impessoalidade que existe quando todos são estranhos à vista e ao tal do medo que se apodera da situação e faz com que nos fechemos.

Vivo no bairro Jardim Paulista, e, portanto, tenho diversas opções de serviços e lazer ao meu redor. Por aqui, tampouco há crise hídrica e corte de energia é raro. Também por ser uma das partes altas da cidade, não há problema de enchentes na região. 

Conhecida também por ser região de pensamento conservador, outro dia vi um exemplo dele, ao entrar em uma papelaria vejo um aviso contra a implementação da ciclovia na Rua Pamplona. 

Mas ainda que a vida neste bairro seja fácil e eu não viva as demais realidades da cidade, eu não preciso ir muito longe para enxergá-la. Vejo-a ao colocar o pé na rua e encontrar um homem dormindo na calçada, também ao andar pelo Centro e ver imigrantes vendendo artesanatos e bugigangas, assim como ao ler as notícias de que morreu mais um jovem na periferia. 

São Paulo é uma cidade complexa, mas é também capaz de englobar diferentes culturas. A cidade foi formada por migrantes, sejam estrangeiros ou vindos de outras regiões do País. Meu próprio avô é um deles – ao chegar à metrópole nos anos de 1940 junto de seu pai e mais dois irmãos, vindos da cidade de Mombaça, interior do Ceará. 

Hoje são os bolivianos e haitianos que acrescentam, e muito, o caráter policultural de São Paulo. 

A cidade oferece cultura a todo momento, não apenas nos grandes espetáculos musicais e shows internacionais, mas em ambientes como o sarau da Cooperifa, os eventos gratuitos no Parque da Juventude (que também guarda um lugar simbólico por ter sido o local onde ficava o Carandiru), o Memorial da Resistência (que faz um trabalho de memória sobre uma época que deve ser lembrada para que não se repita) etc.

Por essas e outras, hoje já não há como voltar para Marília, pois São Paulo me conquistou com todas as suas qualidades e defeitos.

 


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