Teatro Oficina lança abaixo assinado contra torres do Grupo Silvio Santos

“Exemplo de resistência à valorização do dinheiro e da especulação imobiliária.” É assim que a arquiteta do Teatro Oficina, Carila Matzenbacher, se refere à menina dos olhos de Zé Celso, diretor artístico do espaço. Essa vocação contestadora do teatro não faltaria agora que a presidenta do Ipahn (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Jurema de Souza Machado, declarou que em até dois meses autorizará a construção de três torres residenciais ao lado do teatro, no bairro do Bexiga, centro expandido de São Paulo. 

Em entrevista à Brasileiros, a arquiteta afirma que a construção – de responsabilidade da Sisan, braço imobiliário do grupo Silvio Santos – vai destruir a visão de 120 m² do janelão do prédio tombado pelo Patrimônio Histórico em 2010. A solução? Contestação, claro, sinaliza a arquiteta ao revelar o lançamento de um abaixo assinado virtual que pretende colher assinaturas suficientes para embasar um documento que acabe com as pretensões do Iphan e dos representantes do dono do SBT. “O teatro […] resiste ao padrão urbanístico imposto à cidade de São Paulo, onde tudo é igual.”

Brasileiros – Como a construção afeta o funcionamento do Teatro?

Carila Matzenbacher – As apresentações dialogam com a dinâmica da cidade. Temos um “janelão” de 120  que faz parte das nossas apresentações. Com a construção das torres, a relação entre os artistas, o público e a cidade ficará prejudicada, uma vez que toda a vista proporcionada pela janela será bloqueada. As torres comprometem diretamente a amplitude e a perspectiva do ambiente e bloqueiam as sensações relacionadas à região.

O teatro tem algum projeto para o terreno?

Sim. Na Bienal de Arquitetura de São Paulo de 2013 criamos um grupo com arquitetos de diversos cantos do mundo que pensaram em um projeto para o entorno do teatro. Levando em conta toda nossa história, criamos uma alternativa de um espaço urbano, público, cultural e florestal que dialoga com o município.

Carila Matzenbacher, uma das arquitetas do Oficina - Foto: Divulgação
Carila Matzenbacher, uma das arquitetas do Oficina – Foto: Divulgação

Como funciona o projeto?

Diante da necessidade de que as pessoas convivam na região, ele pensa em criar ocupações. É ocupar os espaços vazios por meio de ações coletivas. Um projeto aberto que tenta impedir a especulação imobiliária ao mesmo tempo em que destina ao cidadão os espaços da cidade.

Que ação o teatro planeja para barrar a construção?

Há 30 anos, o geógrafo Aziz Ab’Saber criou argumentos jurídicos para tombar o espaço natural remanescente da Mata Atlântica Original da Serra do Mar. Portanto, uma das opções é buscar novos argumentos jurídicos que proíbam a construção das torres e preservem a identidade cultural do teatro, levando em conta toda sua influência cultural ao longo das últimas décadas.

Vocês pensam em incluir a população em  alguma dessas ações?

Criamos uma petição pública online justificando todos os pontos que interferem na dinâmica do espaço. Com artigos científicos, matérias publicadas nos meios de comunicação e assinaturas de todas as pessoas que são contra a construção das torres, pode ser possível impedir a obra.

Qual a importância do Oficina para a cidade de São Paulo?

É gigantesca! O teatro é um exemplo de resistência à valorização do dinheiro, à especulação imobiliária. Ele resiste ao padrão urbanístico imposto à cidade de São Paulo, onde tudo é igual. 


Comentários

3 respostas para “Teatro Oficina lança abaixo assinado contra torres do Grupo Silvio Santos”

  1. Avatar de marco antonio
    marco antonio

    Nd haver, tanto problema sério, e preucupam-se com a vista q se tem do teatro.

  2. Avatar de Adolpho Legnaro Filho
    Adolpho Legnaro Filho

    EM todo o Brasil não se respeita o patrimônio histórico e muito menos o seu entorno é lamentável o CONDEPHAT se omitir em muitos casos dos patrimônios tombados, não existe fiscalização e quando existe denuncia nada fazem.O Ipahn (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) muito menos. Sempre vem a desculpa que não tem dinheiro e muito menos funcionários para fiscalização

  3. Avatar de Hugo Zapparoli
    Hugo Zapparoli

    Até que se limpe o chão sujo de burguesia não poderemos viver.

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