Quase como no Velho Testamento da Bíblia, onde o Templo de Salomão preservava partes restritas apenas para a entrada de sacerdotes, principalmente no altar e no local onde ficava a arca da aliança, a inauguração da sede da Igreja Universal do Reino de Deus, na noite desta sexta-feira (31), no Brás, zona central de São Paulo, uma réplica da construção erguida pelo Rei Salomão, de Israel, em 4004 a.C, em Jerusalém, também restringiu a presença de pessoas na cerimônia: somente convidados da igreja e autoridades do País tiveram acesso ao interior do templo, que tem capacidade para 10 mil pessoas. Entre eles, a presidente Dilma Rousseff, o governador do Estado, Geraldo Alckmin e o prefeito da cidade, Fernando Haddad, além de administradores de outras regiões e capitais do Brasil e autoridades do Judiciário, Legislativo e Executivo. Ninguém falou com a imprensa, que acompanhou o evento do lado de fora.
O culto durou aproximadamente duas horas, mas a cerimônia começou antes dos discursos dos pastores. Cinco rapazes caminharam pelas ruas laterais do templo carregando uma réplica da arca da aliança – que, segundo a Bíblia, no Velho Testamento guardava a vara de Arão, um pote com um pouco do maná e as tábuas dos dez mandamentos – desde a antiga sede da Universal, também na Avenida Celso Garcia, até o interior do novo prédio. Um coral de mulheres africanas cantaram hinos tradicionais cristãos e, antes do primeiro pastor tomar a palavra, foram tocados os hinos nacionais de Israel e do Brasil por uma orquestra. Em seguida, um filme de aproximadamente dez minutos e projetado na parede principal do templo contou a história do Templo de Salomão desde a primeira edificação, em Jerusalém, até a construção da nova sede da Universal, em São Paulo. Uma cantora israelense ainda cantou a música Yerushalayim Shel Zahav (Jerusalém de Ouro), de Naomi Shemer, considerada uma das principais canções do país.
Três representantes da igreja falaram aos público, sendo dois pastores e o bispo Edir Macedo, que idealizou a obra há quatro anos e que, durante o evento, apareceu com uma longa barba e usou um quipá (tradicional adereço usado sobre a cabeça por judeus). Em sua palavra, disse que as políticas públicas do governo brasileiro não são suficientes para melhorar as condições de viciados em drogas, mas que é possível recuperar pessoas nessas situações por meio da fé, e pediu paz no conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas. Ao final, ordenou que as algumas pessoas fossem até o altar para as orações de agradecimento ao novo templo. Neste momento, Dilma, Alckmin e Haddad ficaram em meio da multidão. Antes dele, os dois pastores que tiveram a palavra também falaram sobre a recuperação de usuários de entorpecentes por parte da Igreja Universal.
No fim, os jornalistas – que ficaram posicionados em frente a um palanque – esperaram a presidenta e o bispo, que chegou a dizer para o público que concederia entrevista coletiva após o culto, por uma hora. Porém, a assessoria de imprensa da presidência informou que, depois de conhecer a parte interna do edifício, Dilma preferiu ir embora para pegar o voo de volta à Brasília.
O Templo de Salomão, nova sede da IURD, tem 126 metros de comprimento e 104 metros de largura, possui dimensões que superam as medidas de um campo de futebol, com 100 mil metros quadrados (m²) de área construída em um terreno de aproximadamente 35 mil m² e com altura de 55 metros, e é cinco vezes maior do que a Basílica de Aparecida, no interior de São Paulo. Com isso, se tornou o maior templo religioso do Brasil.
Contratempos e segurança
A luz acabou três vezes durante a cerimônia. Em uma delas, a falta de iluminação atingiu também a parte interna do templo. A presidente Dilma Rousseff precisou subir três andares de escada sob a supervisão de lanternas de celulares de alguns assessores da presidência para se acomodar no local destinado às autoridades. A Universal informou, por meio de sua assessoria, que vai apurar as causas das quedas de energia.
A organização do evento reuniu fieis que ficaram de mãos dadas ao redor do templo durante todo o tempo. Seguranças contratados e policiais militares ajudaram na segurança e na restrição nas entradas do templo. Os jornalistas ficaram em um espaço cercado por grades e vigiados por dez homens, que controlavam o acesso e também as idas ao banheiro. Fotografias fora do local estabelecido também era proibidas. A assessoria da Universal disse que os procedimentos foram parte das normas estabelecidas pela igreja antes da inauguração.
Denúncias
Durante a semana, os jornais de São Paulo denunciaram irregularidades na concessão do alvará de construção do templo. A obra está sendo investigada pelo Ministério Público Estadual (MPE), pois, segundo a Promotoria de Habitação e Urbanismo, “chama a atenção o fato de que ela foi feita apenas com alvarás de reforma”. Segundo o órgão, isso pode ser um indicativo de fraude, descontrole da administração ou defeito grave de legislação. Em nota, o promotor Maurício Ribeiro Lopes informou, no entanto, que até o momento não há documentos que permitam proposituras judiciais. A Universal não se pronunciou sobre o assunto.
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