A socióloga Maria Alice Setubal dispensa apresentação. Mais conhecida como Neca Setubal, ela é herdeira do banco Itaú. Podíamos parar por aqui, mas não dá. É preciso enfatizar o que essa mulher faz de melhor: ter preocupação com o social alinhada a um conhecimento cultural rico e primoroso.
Neca descobriu a cidade de Itu, no interior de São Paulo, como poucos conseguem fazer, e aproveitou para criar um projeto cujo objetivo é oferecer, além de lazer, uma verdadeira viagem pelo acervo regional.
Chamado de Espaço Memória Fazenda Capoava, ela construiu esse pequeno museu com base em suas pesquisas acerca de hábitos e costumes locais.
Hoje, o que se encontra lá, é uma relíquia que armazena história, arte e culinária de primeira linha, tudo elaborado com base em suas pesquisas. Neca é uma mulher interessada também em política nacional e, nas últimas eleições, foi integrante da campanha de Mariana Silva.
Por isso e por seu projeto, todo voltado à preocupação especial voltada ao mundo feminino, a reportagem de Brasileiros foi atrás de Neca para conhecer melhor o Espaço Memória. Leia os melhores trechos da conversa:
Brasileiros — O que a levou a fazer uma pesquisa regional tão densa e com foco no mundo feminino?
Coordenei um projeto em 2004 que analisou a história e manifestações artísticas do interior de SP: Terra Paulista. Nesse estudo me impressionei muito com o papel da mulher no começo do século 19. As mulheres pobres, chefes de família que vendiam doces ou eram costureiras dentre outras profissões, e as mulheres dos fazendeiros que assumiam a responsabilidade de tocar tudo nas fazendas durante as prolongadas ausências de seus maridos. Assim acho importante divulgar o papel ativo e a importância da mulher paulista.
Brasileiros — Que outras propósitos, além da recuperação e preservação da realidade feminina, movem suas iniciativas profissionais?
Minha atuação profissional tem como foco principal a educação pública. Criei o Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Cultura) em 1987 e desenvolvemos projetos para melhoria na educação nas diferentes regiões do País. Na área da educação, destacam-se os trabalhos de professoras que muitas, apesar de precárias condições de trabalho, mantém o compromisso de garantir a aprendizagem para seus alunos.
Brasileiros — Há ideia de transformar esse projeto em algo sequencial e revitalizar outras áreas para transformá-las em hospedarias gastro-culturais, a exemplo da fazenda Capoava?
Como falei o destaque para o papel da mulher é um desdobramento do Terra Paulista. Criamos na Fazenda Capoava o Espaço Memória onde contamos essa história com um foco principal na culinária. Nesse contexto, trabalhamos as diferentes festas tradicionais que ocorrem durante o ano, assim como fazemos um trabalho com os museus e escolas da região.
O espaço nasceu a partir da extensa pesquisa do projeto “Terra Paulista: Histórias, Arte, Costumes”, e contou com curadoria e planejamento de Ricardo Ribenboim, diretor da Base 7, grife que desenvolve projetos interativos para museus e empreendimentos culturais.
De pau a pique e estilo bandeirista, o espaço passou por reformas para abrigar a nova exposição, que quer estimular o olhar crítico dos visitantes. São objetos, documentos e obras de arte que vão ajudar a contar a história da fazenda nos períodos das monções, ciclo do açúcar, café e gado contemplando o cotidiano, a cultura alimentar e o papel da mulher nessa dinâmica.
Fazenda Capoava
Onde: km 89,9 da Rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto (Antiga Rodovia Marechal Rondon – saindo de SP, com acesso na saída 59 da Rodovia dos Bandeirantes), Bairro do Pedregulho – Itu/SP;
Contato: 0xx11-2118-4100 ou reservas@fazendacapoava.com.br.
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