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Foi como se um grupo de elefantes e burricos tivessem descido a Broadway, com palhaços ao megafone anunciando: “O circo chegou! O circo chegou!”. As eleições primárias dos partidos para as nomeações à Casa Branca finalmente explodiram em Nova York. Há um quarto de século eventos como este foram incapazes de provocar sequer um muxoxo entre os nativos. Quando os eleitores foram às urnas no passado, os nomes de republicanos e democratas já estavam coroados. Nenhum resultado local teria força para destronar os ungidos. Não é o que acontece neste 2016. A briga está feia e todos dependem dos caprichos nova-iorquinos.

O espetáculo começou logo depois das primárias de ambos os partidos em Wisconsin, em 5 de abril. Saído de derrota fragorosa naquele Estado, Donald Trump foi o primeiro a armar sua tenda em sua terra natal. Uma função que bateu recordes de bilheteria, com cerca de 15 mil pessoas preenchendo o cavernoso estúdio cinematográfico Grumman, em Long Island. Do lado de fora, mantidos em cercados e vigiados pela tropa de choque da Polícia de Nova York, um milhar de manifestantes oponentes ao milionário, e um chiqueirinho separado, uma centena de repórteres. Não teve grandes porradas. E a imprensa ficou sem acesso aos excessos do espetáculo do picadeiro

Pesquisas feitas com os que ganharam ingressos revelam grande presença de “guidos” (nome pejorativo dado a descendentes de italianos do Brooklyn, Queens e outras freguesias). A maioria, revela-se, não votou nas últimas eleições e, sobre eles, pesa a enorme dúvida se  o farão em novembro, quando a coisa é para valer. Estavam ali, ao que parece, apenas pelo show. Que foi brando, comparado com o script do Donald em outras praças. Aqui ele bateu mais forte na tecla do preconceito mostrado por seu concorrente Ted Cruz contra a tribo do chamado “Empire State”. Cruz, no debate de Iowa, procurou a simpatia do eleitorado conservador e religioso local declarando que Trump tinha os valores de Nova York. Ou seja: era liberal e imoral. Pra quê? A Big Apple se enfezou.

Mexeu com Nova York, mexeu comigo! Foi o grito de guerra dos nativos (e dos muitos não nativos, que estão por aqui ilegalmente). Ted, vê-se em seus discursos, é racista e xenofóbico (o que é estranho para quem sequer nasceu nos Estados Unidos: veio ao mundo no Canadá, filho de mãe americana e pai cubano). Não importa que o insulto de Cruz tenha sido disparado contra Trump. Feriu o orgulho de uma das populações mais nervosas e malcriadas do planeta. Fez-se o coro com a palavra de ordem do Donald: forgethabouthim!

Ted Cruz, pré-candidato republicano à Presidência dos EUA. Foto: Reprodução/YouTube
Ted Cruz, pré-candidato republicano à Presidência dos EUA. Foto: Reprodução/YouTube

E não é que o sem-noção do Cruz resolveu fazer campanha no Bronx! Justo no Bronx? Território de imigrantes ilegais hispanos (53%), árabes e africanos, onde o idioma mais falado é o espanhol. Teria dado dó, não fosse Ted, o Cruz. Levado pelas mãos do vereador e pastor evangélico Ruben Diaz (eleito democrata, mas absolutamente republicano em seu feitio), o candidato senador pelo Texas foi impiedosamente xingado, gozado e expulso da zona. Os alunos de uma escola secundária, onde ele falaria, ameaçaram debandada em massa caso ele cumprisse com seu roteiro. E mais: não garantiram a segurança do palestrante. Achou-se por bem cancelar o evento. Que foi resumido à ida ao restaurante sino-dominicano Sabrosura (não…não se trata de invencionice de humorista nonsense). Seus constituintes (exceção de Ruben Diaz, que é democrata registrado e não pode votar nas primárias republicanas) somavam exatas 12 pessoas.

Com o povo berrando impropérios lá fora, Ted carregou sua cruz numa entrevista coletiva no Sabrosura. A repórter de uma emissora hispânica lhe fez uma pergunta em espanhol e pediu para que o candidato respondesse no mesmo idioma. Ele respondeu que entendia muito, mas não falava a língua de seu pai. Falou em inglês. Depois tentou minimizar sua referência aos “valores nova-iorquinos”. Ninguém lhe deu atenção. O diário NY Dayli News -um tabloide pra lá de malcriado e visceralmente contra Trump- fez uma pausa nas pancadarias contra o Donald e investiu sua artilharia pesada em Cruz até que este fosse embora para freguesias menos hostis. Na capa do jornal, no dia seguinte ao périplo do republicano ao Oeste do Bronx, a manchete foi “Take the F U Train” (referencia a “take the fuck you train”).

E isso foi apenas um compacto dos melhores momentos dos republicanos na Big Apple. Na próxima coluna se verá o que aconteceu do lado democrata.

Em tempo: para aqueles que se perguntam sobre o terceiro republicano desta peleja, John Kasich, repita-se com a voz anasalada local: “Who dat?”.


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