Alckmin dá tiro no pé com bala de borracha

Bala é bala. Feita de borracha ou não, uma bala disparada de um revólver pode matar. Usar bala, seja de borracha ou não, contra manifestantes constitui tentativa de homicídio, ainda mais nas circunstâncias em que Fábio Proteus Nunes, de 22 anos, foi baleado no aniversário da cidade (25 de janeiro), numa tranquila esquina de Higienópolis – talvez o mais pacato bairro de São Paulo – onde não havia nada a depredar.

Mesmo se estivesse depredando não deveria ser alvejado. O sujeito que depreda está provocando danos materiais, como se diz no jargão policial. Claro que ele deve ser impedido e ser preso. Alvejado jamais. A versão policial não emplacaria nem nas fantasiosas novelas das 21 da Globo. Atiraram em legítima defesa porque o rapaz ameaçou com um estilete. Absurdo. Dois policiais se deparam com um rapaz que os ameaça com estilete e eles atiram no peito e na virilha dele? Dois policiais não conseguem dominar um rapaz? Por que não atiraram na mão que segurava o estilete? Ou no pé? Policiais em filmes americanos costumam fazer assim. Claro que é lorota.

A polícia de Alckmin – sim, ele próprio, pois corroborou a ação policial – não aprenderam a lição de junho passado, quando ataque com balas de borracha a uma pequena passeata provocou a multiplicação delas e dos protestos. Não se sabe aonde – nem de que lado – Alckmin estava durante a ditadura militar. Não foi visto em nenhuma manifestação pró-diretas. Talvez por isso ele não se lembre de que nem a polícia da ditadura atirava em passeatas – e olha que os manifestantes queriam derrubar o governo e não vitrines.

A ditadura torturava e matava, mas não à luz do sol. Havia esse pudor, digamos assim. A única vez em que balas foram empregadas à vista de todos, foi no Calabouço, em 1968, quando um estudante – Edson Luís – foi morto, o que estimulou a multiplicação dos protestos e levou mais gente às ruas. Não vou nem considerar comentários de petistas do apocalipse que imaginam que a ação de Alckmin seja proposital, com intuito de atrapalhar a Copa e a reeleição da presidenta Dilma. Bobagem. Alckmin também quer ser reeleito e é um dos anfitriões da Copa, que começa em São Paulo. Não sei o que se deve fazer para reprimir os protestos. Mas sei o que não fazer: usar qualquer tipo de bala.


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