Cruzeiro e Palmeiras são campeões nacionais de suas séries muitas rodadas antes da última. Isso quer que sejam muito melhores que seus rivais? Não, quer dizer que os outros são muito piores. O futebol brasileiro está numa decadência de dar dó. Entre 1958 e 1970 o Brasil ganhou três das quatro Copas do Mundo disputadas. Nossa seleção era a melhor do mundo. Ríamos de pena dos nossos adversários europeus. “Não têm jogo de cintura!”, criticavam os nossos comentaristas. Dois ou três craques dessa geração foram para a Europa: Vavá, Mazola, Amarildo… E só.
Nossos atletas de ouro não tinham preço. Ai de quem ousasse fazer uma proposta por Pelé. O Pelé é nosso, como petróleo, ninguém tasca. A partir dos anos 80 a porteira abriu. Nossos melhores craques passaram a jogar na Europa e nosso futebol começou a murchar. Chamo de “nosso futebol” aquele que é jogado no Brasil… o futebol da seleção brasileira.
E por que começou a murchar? O objetivo de todo menino passou a ser jogar na Europa, não no Brasil. Ficavam no Brasil os medianos e os ruins. A torcida chiou. E quem quer assistir jogos de pernas-de-pau? Os que ficavam (ficam) aqui, jogavam (jogam) sob o peso de não serem tão bons, pois jogam no Brasil. Quem joga no Brasil não é tão bom quanto quem joga na Europa.
Como conseqüência, se os brasileiros que são os melhores jogam na Europa, são eles os convocados para formar a seleção nacional. E aí o que acontece? Quando entram em campo pela seleção, aqueles que pareciam a todos os melhores jogadores não jogam aquela bola toda. E são cobertos de ofensas. Perderam a vontade, ficaram ricos, são baladeiros e outras baboseiras. Por que eles não são os mesmos na seleção? Ora, porque eles passam o ano inteiro, todos os dias, treinando e jogando nos seus times europeus, obedecendo a esquemas dos treinadores europeus, trocam passes com companheiros de seu time. E aí, duas ou três vezes por ano eles se apresentam à seleção brasileira, onde têm que jogar num outro esquema, o esquema do Felipão, com outros companheiros. O Brasil não está nem entre as dez melhores seleções do mundo.
Vocês já pararam para pensar uma coisa? Onde jogam os titulares da seleção espanhola? Na Espanha, evidentemente. Onde jogam os titulares da seleção alemã? Na Alemanha. Coincidência ou não, são as duas melhores seleções do mundo. Seus jogadores jogam nos times e na seleção dentro do mesmo esquema e com os mesmos companheiros. Eles são individualmente melhores que os brasileiros? Não. A vantagem é que eles jogam junto todos os dias do ano. Por que o Messi é um no Barcelona e outro na seleção argentina? Porque no Barcelona ele joga todo dia e na seleção alguns dias por ano. A culpa não é dele. Outra coisa: como é que um país em crise, como a Espanha, consegue pagar a seus jogadores salários que o Brasil não pode? Como é que um time como o Real Madrid que tem menos torcedores que o Corinthians consegue arrecadar mais?
Não me peçam respostas, não as tenho. Só tenho perguntas. Talvez alguma coisa mude para melhor se a CBF convocar para a seleção apenas aqueles que jogam no Brasil. Seria um recado claro: fiquem no Brasil. Talvez, ainda, se os melhores ficarem no Brasil os jogos também se tornem mais interessantes, os estádios fiquem lotados, os patrocinadores aumentem suas propostas e os nossos times que tanto choram a falta de dinheiro consigam encher seus cofrinhos. Quanto a Cruzeiro e Palmeiras. Se disputasse o campeonato espanhol o Cruzeiro seria um time mediano. Aqui, encanta a imprensa especializada. O Palmeiras, uma lástima… é o candidato mais forte a descer de novo no ano que vem.
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