Se eu tivesse idade estaria na ocupação das escolas estaduais de São Paulo. Talvez esses jovens não saibam, mas estão repetindo o gesto de estudantes um pouco mais velhos que eles, universitários, que, em 1968 ocuparam a Faculdade de Filosofia da rua Maria Antônia.
Tal como os secundaristas agora, nós não queríamos nos apoderar do prédio, não se justificando, portanto, a reintegração de posse exigida pelo governador Alckmin. O que nós queríamos e os estudantes querem agora é ensino melhor. E ensino melhor queria dizer abaixo a ditadura. Como são as coisas. Eu e meus colegas ocupamos a Filosofia num período ditatorial e no entanto o exército não foi nos desalojar. A ocupação só acabou depois dos tiros disparados por alunos do Mackenzie.
Em plena democracia, Alckmin mandou a Polícia Militar dialogar com os jovens. E a PM só sabe dialogar com repressão. A ditadura acabou oficialmente, mas continua na mente de políticos falsamente bonachões, como Alckmin. Recomendo que as atividades de ensino predominem durante a ocupação para ficar bem claro que a intenção não é agitar, mas estudar. Aprender.
Durante a ocupação da Maria Antônia houve um festival de seminários, debates, palestras, de tal modo que muitos alunos aprenderam mais naqueles dias do que em todo o ano letivo. Os estudantes de hoje têm muito do que reclamar. A queixa maior diz respeito ao fechamento de escolas, mas se fosse em relação ao ensino a ocupação também se justificaria. Alckmin precisa ter consciência de que o ensino que está dando aos jovens é de péssima qualidade.
Posso dizer porque meus dois filhos estudaram recentemente em colégio estadual. Por pouco tempo, felizmente. Gritamos “abaixo a ditadura”. Agora, os estudantes podem gritar “abaixo Alckmin”.
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