Quando era o todo-poderoso da Globo, Boni impunha uma condição para dar entrevistas: queria ler e mudar o que quisesse antes da publicação. Comigo foi assim. Um dos cortes que eu mais senti na entrevista à Interview foi a surpreendente comparação que ele fez entre Brizola e Roberto Marinho. “Os dois têm estilo muito parecido, no Sul chamam de ‘fogo de bosta’. Começa com muitos arrufos mas daqui a pouco não tem mais nada.” Completou com uma previsão de Mãe Diná: “Logo logo eles fazem as pazes e se tornam grandes amigos.” Agora, aos 79 anos, fora da Globo desde a morte de Roberto Marinho, Boni tem falado pelos cotovelos e sem as amarras de outrora.
Em entrevista a Genetton de Moraes, na Globo News contou, em tom descontraído, sem dar importância à gravidade da revelação que, por ordem de seu patrão, ele próprio ajudou Collor no último debate presidencial da eleição de 1989, a primeira depois da volta à democracia, realizado nos estúdios da Globo.
Boni não só instruiu como o candidato deveria se comportar de modo a impressionar bem o telespectador, como foi quem deu a ideia de colocar sobre o púlpito uma coleção de pastas que hipoteticamente conteriam acusações contra o opositor, que era Lula e teriam a função de intimidá-lo. “Evidentemente as pastas estavam vazias” disse Boni, com um leve sorriso. No dia seguinte, também disse Boni, em outra entrevista, o jornal Hoje exibiu um resumo do debate “favorável a Lula” o que levou Marinho a pedir que no Jornal Nacional fosse ao ar um resumo “favorável a Collor”. “Mas isso não interferiu na eleição” Boni concluiu, com a lábia de quem, aos dezesseis anos, já vendia anúncios fúnebres.
O que Boni não contou é que o apoio a Collor não se limitou ao último debate, vigorou em toda a campanha. Por exemplo: todos os textos do Fantástico com menções a Collor eram lidos, por sua determinação, pela apresentadora de rosto e voz mais convincente – Doris Giesse.
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