Não há novidade na atual “guerra civil” entre petistas e tucanos ou entre “petralhas” e “coxinhas”. Não há novidade na percepção de que não há nada mais parecido com um tucano do que um petista no poder – como estamos vendo hoje. Talvez o primeiro “Fla-Flu político” tenha ocorrido há 175 anos. Quando Dom Pedro II foi proclamado maior, aos 15 anos, a 23 de julho de 1840, duas forças políticas antagônicas disputavam o poder, ou seja, cargos no seu ministério: os liberais e os conservadores, ambos filhotes da mesma “mãe”: a facção Liberal Moderada da época da Regência, que se dividiu em progressistas e regressistas. Nenhum dos dois advogava a vontade popular para obter um governo representativo, adotava sempre uma política clientelista que reforçava as estruturas do poder. Apesar de defenderem, aparentemente, ideias opostas, tão camaleônica era a alma de seus membros que um dos políticos mais ferinos da época, o pernambucano Holanda Cavalcanti definiu-se os com a seguinte máxima: “Nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder”. Liberais apelidaram os inimigos de “saquaremas” porque ficava em Saquarema (hoje palco de disputas mundiais de surf) a fazenda do Visconde de Itaboraí onde eles se reuniam. Os “saquaremas” apelidaram os liberais de “luzias”, em alusão à vila mineira de Santa Luzia, onde ocorreu a sua maior derrota, mas que tinha uma visível conotação machista. A briga não ficou apenas no plano das ideias. Na primeira eleição para a Câmara dos Deputados os “luzias” contrataram capangas que espancaram e ameaçaram de morte os “saquaremas” e seus simpatizantes e por isso ficou conhecida como “Eleição do Cacete”. Pressionado pelos “saquaremas”, o jovem Dom Pedro II anulou o resultado e trocou “luzias” por “saquaremas” no ministério.
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