O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras classificou como “humilhação inaceitável” o ultimatum que o país recebeu do FMI, da França e da Alemanha exigindo da Grécia maior desregulamentação do mercado de trabalho, cortes nas pensões, reduções mais drásticas nos salários do setor público e um aumento do IVA sobre alimentos, restaurantes e turismo, além de eliminar as isenções fiscais das ilhas Gregas, como saída para permanecer na zona do euro. Em discurso que proferiu ontem, em Atenas, já taxado por muitos como “histórico”, Tsipras diz que trata-se de “um ultimato à democracia grega e ao povo grego. Um ultimato que contraria os princípios e valores fundacionais da Europa, os valores de nosso projeto europeu comum. Eles pediram ao governo grego que aceitasse uma proposta que acumula um nova carga insustentável em cima do povo grego e prejudica a recuperação da economia e sociedade gregas, uma proposta que não só perpetua o estado de incerteza mas acentua ainda mais as desigualdades sociais”. Tsipras repeliu a ameaça de o país ser expulso da União Europeia: “Nesses momentos críticos, nós todos temos que relembrar que a Europa é a casa comum dos povos. Que na Europa não há donos e convidados. A Grécia é e permanecerá uma parte integral da Europa e a Europa é uma parte integral da Grécia. Mas sem democracia, a Europa será uma Europa sem identidade e sem uma bússola”. Além de criticar duramente a proposta capitaneada por Angela Merkel o primeiro-ministro delegou aos gregos a decisão de aceitá-la ou não, num plebiscito que já marcou para o próximo domingo, 5 de julho. E deixa claro qual será o seu voto e em que os gregos devem votar: ”À chantagem do ultimato que nos pedem para aceitar uma severa e degradante austeridade sem fim e sem qualquer perspectiva de uma recuperação social e econômica, eu peço a vocês que respondam de uma maneira soberana e altiva, como a história do povo ensina”. O discurso de Tsipras:
Caros gregos,
Durante seis meses, o governo grego tem travado uma batalha em condições de asfixia econômica sem precedentes a fim de implementar o mandato que vocês nos concederam em 25 de janeiro. O mandato que nós estávamos negociando com os nossos parceiros era para terminar com a austeridade e permitir que a prosperidade e a justiça social retornassem a nosso país.Era um mandato para um acordo sustentável que deveria respeitar tanto a democracia quanto as regras europeias comuns e levar para a saída final da crise. Ao longo deste período de negociações, nós fomos convidados a implementar os acordos fechados pelos governos anteriores com os Memorandos, embora eles tivessem sido categoricamente condenados pelo povo grego nas recentes eleições. Entretanto, em nenhum momento nós pensamos em nos render, que seria trair a confiança de vocês. Depois de cinco meses de duras negociações, nossos parceiros, infelizmente, emitiram no Eurogrupo anteontem um ultimato à democracia grega e ao povo grego. Um ultimato que contraria os princípios e valores fundacionais da Europa, os valores de nosso projeto europeu comum. Eles pediram ao governo grego que aceitasse uma proposta que acumula um nova carga insustentável em cima do povo grego e prejudica a recuperação da economia e sociedade gregas, uma proposta que não só perpetua o estado de incerteza mas acentua ainda mais as desigualdades sociais. A proposta das instituições inclui: medidas que conduzem para uma maior desregulamentação do mercado de trabalho, cortes nas pensões, reduções mais drásticas nos salários do setor público e um aumento do IVA sobre alimentos, restaurantes e turismo, além de eliminar as isenções fiscais das ilhas Gregas. Essas propostas diretamente violam os direitos sociais e fundamentais da Europa: elas demonstram que no referente ao trabalho, igualdade e dignidade, o objetivo de alguns dos parceiros e instituições não é um acordo viável e benéfico para todos os lados, mas a humilhação do povo grego inteiro. Essas propostas principalmente sublinham a insistência do FMI na austeridade severa e punitiva e tornam mais oportuna do que nunca a necessidade de levar os poderes europeus a aproveitar a oportunidade e tomar iniciativas que finalmente trarão um fim definitivo para a crise da dívida soberana grega, uma crise que afeta outros países europeus e ameaça o próprio futuro da integração europeia.
Caros gregos, Agora pesa sobre nossos ombros a histórica responsabilidade para com as lutas e sacrifícios do povo grego para a consolidação da democracia e da soberania nacional. Nossa responsabilidade para com o futuro de nosso país. E essa responsabilidade requer que nós respondamos o ultimato na base da vontade soberana do povo grego. Pouco tempo atrás na reunião do Gabinete, eu sugeri a organização de um referendo, para que o povo grego seja capaz decidir de um modo soberano. A sugestão foi unanimemente aceita. Amanhã a Câmara de Representantes será urgentemente convocada para ratificar a proposta do Gabinete para um referendo para o próximo domingo, 5 de julho, sobre a questão de aceitação ou rejeição da proposta feita pelas instituições. Eu já informei sobre minha decisão ao Presidente da França, à Chanceler da Alemanha e ao Presidente do BCE, e amanhã minha carta pedirá formalmente aos líderes da UE e para instituições estenderem por alguns dias o programa corrente a fim de que o povo grego decida, livre de qualquer pressão e chantagem, como prevista pela Constituição de nosso país e pela tradição democrática da Europa.
Caros gregos, À chantagem do ultimato que nos pedem para aceitar uma severa e degradante austeridade sem fim e sem qualquer perspectiva de uma recuperação social e econômica, eu peço a vocês que respondam de uma maneira soberana e altiva, como a história do povo ensina. O autoritarismo e a austeridade severa, nós responderemos com democracia, calma e decisivamente. A Grécia, local de nascimento da democracia enviará uma resposta democrática retumbante para a Europa e para o mundo. Eu me comprometo pessoalmente a respeitar o resultado da escolha democrática de vocês, qualquer que ele seja. E eu estou absolutamente confiante em que sua escolha honrará a história do nosso país e enviará uma mensagem de dignidade para o mundo. Nesses momentos críticos, nós todos temos que relembrar que a Europa é a casa comum dos povos. Que na Europa não há donos e convidados. A Grécia é e permanecerá uma parte integral da Europa e a Europa é uma parte integral da Grécia. Mas sem democracia, a Europa será uma Europa sem identidade e sem uma bússula. Eu convido a todos vocês a exibir a unidade nacional e a calma a fim de tomar as decisões corretas. Para nós, para as futuras gerações, para a história dos gregos.
Para a soberania e dignidade de nossa Europa.
Atenas, 27 de junho
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