Diário da Política: O Titanic do PMDB

O bravo comandante Michel Temer e seus peemedebistas favoritos não desconfiam que a aventura tende a ser tão desastrosa quanto a do Titanic. Foto: Marcelo Camargo/Fotos Públicas (23/02/2016)
Michel Temer e seus peemedebistas favoritos não desconfiam que a aventura tende a ser tão desastrosa quanto a do Titanic. Foto: Marcelo Camargo/Fotos Públicas (23/02/2016)

O bravo comandante Michel Temer e seus peemedebistas favoritos estão preparando, nos melhores alfaiates, as indumentárias mais vistosas, reservando os melhores perfumes e gravatas para embarcarem, excitadíssimos, na viagem do impeachment sem desconfiarem que a sua aventura tende a ser tão desastrosa quanto a do Titanic.

   Desastrosa não só para eles, mas para todos os brasileiros que os saúdam e aplaudem – e também os que os vaiam – enquanto eles gloriosamente sobem ao convés.

   Pobre Temer, pobres peemedebistas!

   O impeachment, que sempre foi e sempre será um golpe civil, na medida em que sua finalidade é depor um presidente (ou vice ou ambos) eleito, ainda que pelo voto – não esqueçamos que o primeiro presidente da ditadura militar também foi eleito pelo Congresso –  é um processo tão tortuoso e danoso ao país que jamais aconteceu entre nós, ao contrário do que afirmam editoriais tendenciosos e deputados mal informados.

   “Mas tivemos o impeachment do Collor! E ele não foi danoso! Não fez mal algum ao país, só fez bem! E ninguém chamou de golpe”!

   Ledo (e Ivo) engano!

   O impeachment compõe-se de três etapas. Na primeira, os deputados federais votam se o processo deve ser aberto – é o que acontece nos dias que correm. Se 342 deles optarem pelo sim passa-se à segunda etapa, que é quando os 81 senadores, também por maioria absoluta, devem confirmar a decisão da Câmara dos Deputados para o processo seguir adiante.

   Nessa hora Collor renunciou, impedindo que a terceira etapa acontecesse e o impeachment se consumasse.

   E é na terceira etapa que mora o perigo.

   Se os senadores aprovarem a abertura do impeachment (até aí vota-se apenas a abertura e não o mérito), o presidente ou, no caso, a presidente é afastada provisoriamente por 180 dias.

   E o vice assume, também provisoriamente, por 180 dias.

   Nesse período ocorre, enfim, o julgamento do impeachment, realizado no Senado, mas sob o comando do presidente do STF. É quando o processo político veste o figurino jurídico.

   Jamais um processo de impeachment chegou a essa etapa no Brasil.

   O grande baile da Ilha Fiscal para a qual o PMDB ansiosamente se embeleza e distribui convites tem, portanto, duração limitada.

   Se o Senado decidir que a presidente não cometeu crime de responsabilidade – que é o mais provável, pois crime não há e aí o julgamento não é político, mas jurídico, ela volta ao poder, coberta de glórias e o governo provisório do vice afunda no iceberg da sua estupidez e irresponsabilidade, enquanto o pianista executa a marcha fúnebre .

   Mas não é só.

   Durante esses seis meses as denúncias que Temer acumula na Lava Jato estarão sob a lupa do STF e poderão transformá-lo em réu ou coisa pior.

   Em último caso, seu mandato poderá ser cassado (motivos não faltam) pelo STF e ele então terá de ser substituído por seu sucessor imediato, que é o presidente da Câmara, que já é réu.

   Assumindo, e seu processo estando em andamento, o sucessor poderá vir a ser condenado (faltam motivos?) e, em consequência, também cair. E seu sucessor imediato é o presidente do Senado, que também é freguês da Lava Jato.

   Se este também for impedido, assumirá o presidente do STF, que convocará novas eleições.

   Nessa altura do campeonato já poderemos estar nos aproximando de 2018, data para a qual as próximas eleições estão, de fato, programadas.

   Resumo da estupidez número 1: o país vai perder esse tempo todo para chegar ao mesmo ponto a que chegaria naturalmente, sem que tudo isso fosse necessário e com consequências imprevisíveis para a já frágil economia, que se encontra em recessão.

   Resumo da estupidez número 2: o impeachment terá ferido, mas não de morte, a única autoridade – a presidente Dilma – que não é investigada pela Lava Jato para abrir espaço a sucessores atolados em seus particulares e profundos mares de lama.

   É preciso alertar aos brasileiros que, ao contrário do que pregam os arautos do golpe, o impeachment – se consumado – não vai tirar o Brasil da crise econômica e sim aprofundá-la, pois a instabilidade de um governo provisório, ameaçado não só pelo fantasma da volta da presidente como pela mão pesada da Lava Jato e do STF não vai proporcionar clima favorável a investimentos e sim – aí sim – à paralisia da atividade econômica.

   Se os peemedebistas pretendem embarcar no Titanic, tenham bom proveito.

   Mas levar com eles uma nação inteira não é apenas estupidez. É crime de lesa-pátria.  


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