Certa vez, nos primórdios da TV Record sob administração da Igreja Universal, o líder da seita e dono da rede, Edir Macedo, entrou de surpresa na redação da emissora.
E flagrou o diretor de Jornalismo, que se tratava com antidepressivos, atravessando a sala apenas de meias pretas, sem sapatos.
Sem perda de tempo, Macedo ordenou ao diretor-geral, Guga de Oliveira:
– Temos que exorcisar!
E o jornalista, dono de bela carreira com passagens pelos principais órgãos de comunicação do país teve que se submeter ao ritual, realizado na igreja do bairro do Brás, pois, caso contrário seria sumariamente demitido.
Não sei o que Edir Macedo diria a respeito do “espetáculo” apresentado pela advogada Janaína Pascoal no púlpito localizado em frente à vetusta e histórica Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.
Nem as emissoras de TV tiveram coragem de mostrar a cena na íntegra, selecionaram apenas os momentos menos eufóricos, digamos assim, menos constrangedores, com o intuito de proteger a imagem da protagonista do show de horror e poupar os telespectadores de um dos momentos mais grotescos da história brasileira.
Mas, nas redes sociais, o discurso raivoso, patético e inintelegível circula livremente para quem quiser ver.
Não sei se, depois disso, alguém terá coragem de confiar a ela alguma causa ou se seus clientes vão continuar sendo seus clientes. O que, no momento, é irrelevante.
O que me pergunto é como uma pessoa que se comporta dessa maneira foi alçada à cena nacional por dois advogados que, concordemos com eles ou não, ocuparam cargos relevantes na República e um deles, o lendário Hélio Bicudo, que nos anos da ditadura notabilizou-se pela coragem de enfrentar e condenar os famigerados policiais do chamado Esquadrão da Morte de São Paulo é visto ao seu lado, apreciando a performance e aplaudindo a moça de cabelos desgrenhados que berrava ao microfone palavras de ordem sem sentido, andava para frente e para trás nervosamente e agitava um pano amarelo acima da sua cabeça.
O que me pergunto é como um pedido de impeachment assinado por essa pessoa que requer cuidados urgentes – sejam místicos ou médicos – foi aceito por outro personagem grotesco que estranhamente ocupa um dos postos mais importantes da República, sem falar no seu histórico de malfeitos que agridem a opinião pública, com apoio de deputados que se enrolam em bandeiras no plenário e berram no mesmo tom da possuída, esquecidos da frase cunhada no século XVIII pelo escritor inglês Samuel Johnson que melhor os define: “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.
Quando Chico Buarque, disse, em 1984, em uma de suas mais brilhantes e conhecidas canções que “o estandarte do sanatório geral vai passar” não imaginava que estava descrevendo o ambiente que vivemos em 2016.
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