Diário da política: procura-se Janene, vivo ou morto

Celso Janene: viúva desconfia que ele não morreu - Foto: Reprodução/ Câmara dos Deputados
José Janene: viúva desconfia que ele não morreu – Foto: Reprodução/ Câmara dos Deputados
Não sei porque tanto estardalhaço e confusão causou a proposta do presidente da CPI da Petrobrás de exumar o corpo do ex-deputado José Janene para constatar se é ele mesmo que está no caixão ou se armou uma grande farsa para escapar do mensalão. Se for constatada a farsa não será o primeiro caso do gênero no Brasil. Algo semelhante ocorreu na Bahia no tempo em que Jorge Amado, Dorival Caymmi, Caribé e outros amigos eram jovens. Na época, um pintor baiano de sobrenome Mendonça voltara à terra depois de uma temporada na Itália, onde colheu razoável sucesso e ficou noivo. O motivo de seu retorno era despedir-se da família antes do casamento e então consumar o enlace na Europa. Ocorre que na temporada baiana ele se enrabichou com uma aluna sua e, certamente por sentir-se melhor com ela do que com a italiana, deixou o noivado para lá. Certo dia, os irmãos da sua noiva avisaram-no, por carta que estavam a caminho de Salvador para trazê-lo à força, pois não admitiam tamanha desfeita. Só então ele soube que eram ligados à máfia. Desesperado, revelou a ameaça aos amigos. Quando os italianos bateram à sua porta foram recebidos pelo grupo, inconsolável. Choravam a morte do amigo Mendonça! Morte súbita, traiçoeira como todas. Incrédulos, os futuros cunhados exigiram provas. Foram conduzidos, então, ao cemitério, onde encontraram o túmulo do falecido, com nome, retrato, data de nascimento e data do óbito e o registro no livro dos mortos. Claro que tudo tinha sido combinado com o diretor do cemitério, outro amigo do Mendonça, mas os italianos caíram direitinho e passaram o resto da vida achando que o cunhado não passava de um cadáver – enquanto, na realidade, o tal Mendonça casou-se com a aluna e um de seus filhos é o famoso marqueteiro Duda Mendonça. Se um pintor ameaçado por mafiosos pode simular a sua morte, por que não um político ameaçado por 100 anos de prisão? Eu mesmo considerei muito suspeita a sua morte bem no meio do mensalão. Se há algum indício de que Janene possa estar vivo, apesar de ter morrido dentro do insuspeito Instituto do Coração de São Paulo que mal há em exumá-lo? Pode parecer um roteiro de “O Bem Amado”, mas e daí? Quase tudo o que acontece em Brasília parece sair de um roteiro do Dias Gomes! E, de mais a mais, se um ex-presidente da República, Jango, pode ser exumado, por que não um político deveras esperto e safo?


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