Diário da política: as razões do indiciamento de Cristina Kirchner

Foto: Reprodução/Twitter/@cfkargentina
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O relatório em que o promotor Gerardo Pollicita pede ao Juíz licença para abrir um processo no qual a principal indiciada é a presidente argentina Cristina Kirchner, por favorecer o encobrimento dos acusados pelo atentado contra entidade judaica em Buenos Aires, no dia 18/07/1994 confirma o primeiro, assinado pelo ex-promotor Alberto Nisman, que não pôde apresentá-lo por ter sido encontrado morto na véspera do dia em que o apresentaria (14/01/2015). Muito esclarecedor e facilmente compreensível por leigos, o documento publicado ontem em Buenos Aires não pede a condenação da presidente; apenas a indicia, ou seja, torna-a suspeita de um crime que teria acontecido contra o estado argentino.

Se o juiz aceitar a denúncia, o Congresso permitirá ou não o início do processo contra Cristina e só então, se tudo isso acontecer, ela poderá ser julgada e condenada ou não. O documento traça um histórico dos fatos. A Justiça argentina responsabilizara formalmente pelo maior atentado terrorista da história do país – 85 mortos, mais de 300 feridos – as autoridades máximas do Irã daquele período, inclusive o presidente Ali Akbar Hashemi Bahramaie Rafsanjani, que o teria encomendado a terroristas libaneses do Hezbolla e solicitou a captura nacional e internacional de oito iranianos de alto coturno – além do presidente, quatro ministros – sem resposta do Irã, que pressionava o então presidente Nestor Kirchner, marido de Cristina para anular a sentença.

Kirchner jamais aceitou negociar com os iranianos e sempre apoiou a decisão da Justiça, que se fortaleceu em 2007, quando a Interpol premiou cinco dos iranianos com a nota vermelha, alerta de captura máxima. Um aviso de que seriam capturados se deixassem o Irã. Nestor Kirchner foi firme nessa questão até a morte, em outubro de 2010. Três meses depois, Cristina, que o sucedeu, instruiu seu ministro das Relações Exteriores, Hector Timerman a negociar a retomada de relações com o Irã, rompidas desde o atentado. O Irã impôs como condição a exclusão dos iranianos da lista vermelha. Timerman, falando por Cristina, concordou.

Os dois países enviaram uma carta à direção da Interpol com esse pedido. Mas a Interpol recusou-se a retirar as notas vermelhas. Paralelamente às negociações à luz do dia, dentro da operação de encobrimento ocorriam ações de desmoralização da sentença contra os iranianos através da imprensa e uma iniciativa, que buscava encontrar outros culpados para o atentado, formalizada num grupo integrado por representantes do governo iraniano e argentino chamado Comissão da Verdade.  Esse lado sombrio da operação contava com representante da Inteligência do governo argentino.

A leitura do relatório, sereno, e fartamente documentado permite concluir que ele não contém acusação alguma contra a presidente do ponto de vista político e sim do ponto de vista jurídico, pois, se as atitudes de que ela é acusada foram comprovadas, não haverá dúvida de que ela conspirou contra a Justiça do país que governa. 


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