Diário da política: retaliações do poderoso chefão

Eduardo Cunha. Foto: Luis Macedo/Fotos Públicas (17/07/2015)
Eduardo Cunha. Foto: Luis Macedo/Fotos Públicas (17/07/2015)

A reação agressiva de Eduardo Cunha às acusações do lobista Júlio Camargo, ameaçando retaliar o governo – como se Dilma mandasse denunciá-lo na Lava Jato – somente confirmam as acusações, pois é acusado não só de receber propina de empreiteira apanhada na operação, mas também de retaliar empreiteiras, em proveito próprio, usando como armas deputados do seu grupo político, o que pode ser até mais grave do que os 5 milhões de dólares que pediu a Camargo – segundo suas declarações em delação premiada.

O relato de Camargo coincide em muitos aspectos ao de Milton Schahin, cuja empresa passou a ser retaliada pelo grupo de Cunha em meio a um litígio comercial quando ele era o líder do PMDB na Câmara dos Deputados.

A Schahin construira, em Rondônia, uma barragem que rompeu e inundou uma grande área habitada atingindo 200 famílias. Cobrada pela contratante da obra, alegou que a falha decorrera do projeto – feito por outra empresa – e não da construção. Em meio ao atrito a Schahin foi procurada por um representante da contratante = Lúcio Bolonha Funaro – e em seguida, por continuar se negando a pagar o prejuízo passou a ser alvo de requerimentos de deputados questionando seus contratos e exigindo explicações a respeito de suas operações em comissões da Câmara dos Deputados que acabaram por envolver a empresa na Lava Jato. Schahin confirmou em audiência pública que, tanto o tal representante quanto os deputados têm ligações estreitas com Cunha.

Camargo também cita pressões via requerimentos contra a empresa que representava, a japonesa Mitsui, elaborados por deputados do grupo político de Cunha. Ele contou ter procurado, por causa disso, o então ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. Ao ouvir suas queixas acerca dos requerimentos, o ministro concluiu, de chofre: “Isso é coisa do Eduardo”. Então telefonou a Cunha na mesma hora, na frente de Camargo e disse: “Eu estou aqui com o Júlio Camargo que me contou a respeito de requerimentos contra a Mitsui. Você ficou louco?” Dias depois, Camargo reuniu-se com o próprio Cunha ao lado de Fernando Baiano, outro lobista preso na Lava Jato.  Cunha, então, explicou o motivo das pressões: “Você tem uma dívida com o Fernando Baiano da qual eu sou merecedor de cinco milhões”.

Se a propina de US$ 5 milhões (R$ 15,7 milhões, aproximadamente) tem que ser provada, como Cunha desafiou, seus métodos como líder e como presidente da Câmara dos Deputados parecem estar devidamente esclarecidos.

Resta saber se o país aceita que o terceiro posto da hierarquia política da nação seja ocupado por uma pessoa desse naipe.


Comentários

4 respostas para “Diário da política: retaliações do poderoso chefão”

  1. Caso saia, cidadões de bem devem continuar lutando pela redução da maioridade penal e pelo impeachment da presidente!

  2. Culpado ou não, a sua possível saída do Câmara não irá aumentar a popularidade da presidente e muito menos salvar o pt de ser extinto!

  3. No depoimento de Lúcio Funaro na CPMI dos Correios tem isso:
    “SR. SUB-RELATOR DEPUTADO ACM NETO
    (PFL-BA): Bom, então o processo administrativo de
    número 543 de 2004, trata de operações atípicas da
    LAETA, em operações flexíveis de Bovespa e dólar futuro,
    com e sem garantia… Operações atípicas identificadas
    na LAETA. Práticas fiscais e contábeis adotadas
    nas operações da LAETA: 1-opções flexíveis Bovespa,
    com e sem garantia, foram caracterizadas como não
    usuais e, por envolver a denúncia de um resultado da
    ordem de seis milhões, superior ao patrimônio da corretora,
    ou seja, não reconhecimento da receita auferida
    nas operações de opções flexíveis; 2- Adulteração das
    notas de negociação com operações flexíveis na BMF;
    3- Ineficácia da LAETA de implementar e fazer cumprir
    controles internos eficazes, no sentido de manter
    o cadastro de seus clientes de acordo com as normas
    legais e regulamentares em vigor que dispõeM sobre os
    crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens,
    direitos e valores e sobre a prevenção da utilização
    do sistema financeiro para prática de tais ilícitos. E aí
    vai, aí vem aqui: Cliente da LAETA, nesse processo,
    quem eram os clientes da LAETA que, supostamente,
    receberam os recursos que a LAETA não tinha como
    justificar: Eduardo Cosentino da Cunha, Lúcio Bolonha
    Funaro, cliente 229, por conta da FER Corretora,
    Sérgio Guaraciaba Martins Reinas, o dono da GLOBAL
    TREND, Ricardo Luiz Surssman e o ROLAND GARROS-
    FIF, que é um dos fundos exclusivos da PRECE.
    Depois, a LAETA é penalizada, aqui, ficando, dessa
    maneira, sujeitas à penalidade PREVIsta no artigo 11
    da Lei 6385. O Senhor tem conhecimento desse processo
    da CVM?
    SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO: Esse processo
    não é da CVM, Excelência, esse processo foi do
    relatório interno da BMF, que tem uma perseguição
    incrível contra a LAETA, não sei porque. Eu não fui
    intimado, não tenho processo instaurado na CVM em
    relação a esses fatos. Está aqui, esse mesmo RDA
    que o Senhor tem”.
    (saiu errado Eduardo Consentino da Cunha em vez de Eduardo Cosentino da Cunha na nota taquigráfica original)

  4. Pelo visto, Eduardo Cunha terá de ser investigado pelo Ministério Público Federal pelas suspeitas de desvios do fundo de pensão PRECE, da CEDAE, do Rio, do qual foi acusado na CPMI dos Correios, mas que o relator Osmar Serraglio e ACM Neto resolveram proteger Cunha. Parece que o fundo deu prejuízo de 300 milhões em alguns anos, naquele período.
    Basta ver as notas taquigráficas daquela CPMI nos depoimentos de Lúcio Bolonha Funaro e Cezar Sassoun, Ele é citado nas investigações da CVM pelos desvios do PRECE. Até hoje tem processo na CVM com o nome deles.

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