A reação agressiva de Eduardo Cunha às acusações do lobista Júlio Camargo, ameaçando retaliar o governo – como se Dilma mandasse denunciá-lo na Lava Jato – somente confirmam as acusações, pois é acusado não só de receber propina de empreiteira apanhada na operação, mas também de retaliar empreiteiras, em proveito próprio, usando como armas deputados do seu grupo político, o que pode ser até mais grave do que os 5 milhões de dólares que pediu a Camargo – segundo suas declarações em delação premiada.
O relato de Camargo coincide em muitos aspectos ao de Milton Schahin, cuja empresa passou a ser retaliada pelo grupo de Cunha em meio a um litígio comercial quando ele era o líder do PMDB na Câmara dos Deputados.
A Schahin construira, em Rondônia, uma barragem que rompeu e inundou uma grande área habitada atingindo 200 famílias. Cobrada pela contratante da obra, alegou que a falha decorrera do projeto – feito por outra empresa – e não da construção. Em meio ao atrito a Schahin foi procurada por um representante da contratante = Lúcio Bolonha Funaro – e em seguida, por continuar se negando a pagar o prejuízo passou a ser alvo de requerimentos de deputados questionando seus contratos e exigindo explicações a respeito de suas operações em comissões da Câmara dos Deputados que acabaram por envolver a empresa na Lava Jato. Schahin confirmou em audiência pública que, tanto o tal representante quanto os deputados têm ligações estreitas com Cunha.
Camargo também cita pressões via requerimentos contra a empresa que representava, a japonesa Mitsui, elaborados por deputados do grupo político de Cunha. Ele contou ter procurado, por causa disso, o então ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. Ao ouvir suas queixas acerca dos requerimentos, o ministro concluiu, de chofre: “Isso é coisa do Eduardo”. Então telefonou a Cunha na mesma hora, na frente de Camargo e disse: “Eu estou aqui com o Júlio Camargo que me contou a respeito de requerimentos contra a Mitsui. Você ficou louco?” Dias depois, Camargo reuniu-se com o próprio Cunha ao lado de Fernando Baiano, outro lobista preso na Lava Jato. Cunha, então, explicou o motivo das pressões: “Você tem uma dívida com o Fernando Baiano da qual eu sou merecedor de cinco milhões”.
Se a propina de US$ 5 milhões (R$ 15,7 milhões, aproximadamente) tem que ser provada, como Cunha desafiou, seus métodos como líder e como presidente da Câmara dos Deputados parecem estar devidamente esclarecidos.
Resta saber se o país aceita que o terceiro posto da hierarquia política da nação seja ocupado por uma pessoa desse naipe.
Deixe um comentário