“É fato conhecido a relação de André Esteves com o deputado Eduardo Cunha e com o senador Romero Jucá. O presidente da Câmara funcionava como menino de recados de André Esteves principalmente quando o assunto se relacionava a interesses do Banco BTG, especialmente no que tange às Medidas Provisórias que tramitam no Congresso.”
Essas declarações fazem parte do Anexo 26 do Termo de Colaboração nº 16 de Delcídio do Amaral prestadas às 17h50min de 14 de fevereiro de 2016, na sede do Ministério Público Militar, em Brasília.
André Esteves, disse Delcídio, “incorria com frequência na prática de exercer influência para alterar Medidas Provisórias por meio de emendas parlamentares”. Mas não era o único.
Em relação ao documento apreendido na residência do assessor de Delcídio, chamado Diogo, na qual havia referência à Medida Provisória 608 e ao pagamento de propina de 45 milhões de reais de André Esteves a Eduardo Cunha, ele disse que “essa informação lhe foi trazida por Diogo, não sabendo precisar a origem, mas tende a ser a repetição do ‘modus operandi’ que era do seu conhecimento”.
Ainda segundo Delcídio, “o processo legislativo de emendas parlamentares a Medidas Provisórias se transformou em campo fértil para oportunidades de defesa de interesses setoriais e para negócios escusos”.
“Ainda recentemente”, segundo Delcídio, “foi apresentada na Câmara emenda a uma Medida Provisória (668 ou 681) com o propósito de incluir mecanismos para que bancos falidos utilizassem os Fundos de Compensação de Variações Salariais para quitarem dívidas com a União, apresentada por Eduardo Cunha ou congressista a ele ligado”.
A emenda foi vetada pela presidente Dilma, quando então André Esteves pediu a Delcídio que este marcasse reunião com o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para que o banqueiro tentasse convencê-lo de que a emenda era boa e fosse reapresentada em outra Medida Provisória.
André Esteves também tinha envolvimento com negócios relativos a petróleo. “Ele tinha preocupação com a compra suspeita de 50% dos campos de petróleo da Petroafrica, principalmente na Nigéria, cujo valor, US$1,5 bilhões, foi muito aquém do que a própria Petrobrás já tinha investido e o potencial dos poços”.
A outra preocupação do banqueiro dizia respeito à sociedade com uma rede de postos do empresário paulista Carlos Santiago, em 2012 ou 2013 que passou a funcionar com a bandeira BR, operação na qual houve pagamento de propina a políticos e a diretores da BR Distribuidora.
André Esteves disse a Delcídio que quem pagara a propina fora Carlos Santiago e não ele, alegando que “ninguém meu foi à BR”.
A íntegra da delação de Delcídio relata uma série de operações ilícitas praticadas na Petrobrás que não foram reveladas pelos delatores anteriores, como Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, porque o ex-senador foi diretor da estatal no período anterior a eles, no segundo mandato do presidente Fernando Henrique, entre 1999 e 2001, razão pela qual tomou conhecimento de fatos da gestão de Joel Rennó, presidente da Petrobrás durante o governo Itamar Franco e primeiro mandato de FHC.
“Na época de Joel Rennó ocorriam casos de ilicitudes, em alguns casos para enriquecimento pessoal como também para financiamento de campanhas políticas”.
Um dos empresários envolvidos em negociatas na aquisição de sondas e de plataformas foi German Efromovitch, dono da empresa Marítima.
Tudo indica que o esquema na Petrobrás não foi criado pelo PT, como foi difundido pela imprensa até agora.
É preciso ir mais fundo para chegar à verdade.
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