O presidente teme

Michel Temer em almoço no Palácio do Planalto - Foto: Marcos Corrêa/Fotos Públicas
Michel Temer em almoço no Palácio do Planalto – Foto: Marcos Corrêa/Fotos Públicas

Ele teme andar na rua no meio do povo, mesmo cercado de seguranças.

Ele teme qualquer compromisso público, só dá as caras em locais fechados.

Ele teme ser abraçado por desconhecidos.

Ele teme o povo, mas o povo não o teme.

Ele teme que presidentes de outros países percebam que ele não é amado em seu país.

Ele teme ficar na casa onde mora, que se transformou em área de segurança nacional controlada pela PM.

Ele teme ter que voltar atrás numa decisão que ainda não tomou.

Ele teme ser abandonado pela Globo por falta de ibope.

Ele teme que o Serra tome o seu lugar.

Ele teme Eduardo Cunha, por isso faz tudo o que ele quer.

Ele teme que descubram que Eduardo Cunha manda nele.

Ele teme que descubram que ele é, na verdade, o vice de Eduardo Cunha.

Ele teme desagradar aos artistas, por isso voltou atrás e recriou o ministério da Cultura.

Ele teme que desconfiem de sua declaração de bens na qual declarou ter apenas 800 mil reais em patrimônio, muito menos do que vale a casa onde mora.

Ele teme dizer o que não pensa e pensar o que não diz.

Ele teme que seus ministros sejam desmascarados, tantas são as ações penais a que respondem.

Ele teme não parecer tão fraco que o derrubem, nem tão forte que o chamem de ditador.

Ele teme ser denunciado na Lava Jato, tantas são as delações que o envolvem.

Ele teme que suas contas de campanha sejam reprovadas pelo TSE por causa de doações de empreiteiras inidôneas.

Ele teme passar à história como “mordomo de filme de terror”.

Ele teme permanecer inelegível por decisão do TRE de São Paulo, por ter doado a candidatos do PMDB acima do estabelecido por lei.

Ele teme não conseguir 54 votos no Senado na segunda fase do impeachment e terminar seu governo provisório melancolicamente.

Ele teme que Dilma volte ao Palácio do Planalto e ele ao Palácio do Jaburu, onde sempre foi e será um vice decorativo.

Ele teme olhar a ampulheta porque envelhece mais rapidamente que sua jovem mulher.

Ele teme passar à história como traidor.

Ele teme as urnas, pois na última vez em que concorreu a deputado só foi eleito pelo quociente eleitoral.

Ele teme ser a metamorfose ambulante da direita.

Ele teme contrariar seus aliados e ser abandonado.

Ele teme que descubram que ele não é o líder que os brasileiros esperavam.

Ele teme por sua segurança, por isso nomeou um general da linha dura para protegê-lo.

Ele teme que investiguem seu amigo, um ex-coronel aposentado da PM que se tornou sócio de uma empreiteira que tem contrato de 14 bilhões com Angra 3.

Ele teme que se confirmem as denúncias do wikileaks de que espionou Lula e Fernando Henrique para o governo americano.

Ele teme declarar que o estado é laico e cair em desgraça com os evangélicos.

Ele teme perder aliados na divisão dos cargos mais cobiçados do governo.

Ele teme ser considerado o pior presidente da história do Brasil.

Ele teme que descubram que seus poemas não chegam a ser poemas.

Ele teme fracassar.

Ele teme.

E um presidente que teme não consegue governar. 

E ninguém gosta de ser governado por um presidente que teme.


Comentários

Uma resposta para “O presidente teme”

  1. Avatar de adriana jaeger
    adriana jaeger

    Gostei!

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