Onda de antissemitismo na Ucrânia pós-golpe

Fiquei na dúvida no primeiro momento. Não sabia de que lado ficar. De Yanucovitch, amigo de Putin? Ou da oposição que não respeita a constituição? Os oposicionistas sempre conseguem atrair mais simpatia, principalmente quando estão acampados desde novembro de 2013 na Praça da Independência de Kiev, com transmissão ao vivo da CNN. Essa palavra “independência” ajuda nisso. Eles queriam independência da Rússia, independência de Putin, habitualmente somos compelidos a gostar de quem procura ser independente. Mas eles agiam democraticamente ao pressionar os deputados que por fim destituíram Yanucovitch contra quem a única acusação era ter feito acordo econômico com Moscou e não com a Europa?

Ontem surgiram os primeiros sinais de que os vencedores não são dignos de aplausos. Rabinos de Kiev exortaram judeus a deixarem a cidade ou até o país, devido à onda de antissemitismo pós-golpe. Não há policiamento, a segurança passou às milícias – e as autoridades judaicas não confiam nelas. Não é possível apoiar o grupo cuja chegada ao poder propicia essa intolerância.

Com Yanucovitch não havia nada disso. Os golpistas estão no comando de uma aventura. Medvedev definiu a situação: a Ucrânia não tem governo. O antissemitismo faz parte do DNA da Ucrânia. Provocou a fuga de muitos ucranianos judeus que mais tarde se tornaram homens ilustres em seus novos países. Muitos fugiram para os Estados Unidos, para a Argentina e muitos vieram ao Brasil. O pioneiro foi Mauricio Klabin, cujo nome original é Moshe Elcana de Poselva. Ele chegou em São Paulo em 1887 com um carregamento de 30 quilos de tabaco e papel de cigarro, vindo da Inglaterra. Os brasileiros só conheciam cigarro de palha. Em trinta anos ele fez fortuna suficiente para trazer a São Paulo outros judeus perseguidos na Ucrânia, como as famílias Feffer e Lafer. Klabin, Feffer e Lafer tornaram-se três nomes fortes da indústria, cultura e política brasileiras.


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