Embora Marcelo Odebrecht tenha organizado um esquema de corrupção na Petrobrás que trouxe lucros formidáveis à sua empresa; embora João Vaccari Neto tenha arrecadado pixulecos da Odebrecht e de outras grandes empreiteiras em favor do PT; embora Zé Dirceu tenha indicado diretores que azeitaram com verbas a máquina petista; embora João Santana tenha cometido o erro de receber pagamentos da Odebrecht e não do seu cliente, o PT, nada justifica as penas hediondas que alguns deles já receberam e outros estão para receber a não ser o objetivo de, por meio delas, destruir o PT, partindo do princípio de que, se a pena é gravíssima, os crimes também são.
Não há como explicar de outra maneira essas condenações ordenadas pelo juiz de primeira instância Sergio Moro que, com espírito de Torquemada, investe de tal modo contra crimes financeiros que chega a transformar justiça em perseguição. E Justiça que vira caça às bruxas vira injustiça.
A pena máxima estabelecida pela legislação brasileira é de 30 anos, condenação reservada para homicídios bárbaros, tais como os crimes da mala de Chico Picadinho. Outros homicídios terríveis, tais como o da menina jogada de uma janela pelo pai e a madrasta ou da loira má que abriu a porta para o namorado matar seus pais a paulada nem receberam essa pena.
Marcelo Odebrecht não é um homicida, muito menos hediondo. É um empresário que comanda uma empresa de engenharia de nível internacional, que possui um quadro de funcionários, em vários países, de fazer inveja a qualquer empresa do mesmo ramo de qualquer parte do mundo, responsável por milhares de obras irretocáveis em centenas de cidades que cometeu o “crime” de repetir o que tanto a sua empreiteira, quanto outras do mesmo porte, faziam no Brasil desde, ao menos, os anos JK, sem serem incomodadas pela Justiça.
Ele montou um esquema profissional que, graças às ferramentas de comunicação hoje disponíveis foi detectado pela Polícia Federal, mas, nessa trajetória, não se tem notícia de que chantageou, fez achaques, ameaçou alguém de morte ou matou um concorrente ou um desafeto.
João Vaccari Neto é um tesoureiro que recebeu a tarefa de arrecadar valores para campanhas políticas do PT junto a empresas que forneciam serviços para governos comandados pelo partido, procedimento que também favoreceu políticos de vários outros partidos, mormente o PMDB e o PP, cujos tesoureiros, no entanto, não foram incomodados. Vaccari Neto não arrecadou apontando revólver, não ameaçou, não chantageou, não achacou.
José Dirceu é um político forjado nas lutas estudantis que, diante da impossibilidade de o PT governar dentro de parâmetros democráticos e republicanos, sucumbiu às exigências de partidos e políticos tradicionais que sempre impuseram a condição de receber vantagens para garantir a governabilidade, criando um esquema de distribuição de valores entre políticos de vários partidos. Nunca apontou revólver para alguém, nunca ameaçou, nunca achacou, nunca feriu.
João Santana é um jornalista de longa carreira, elogiada tanto na fase da imprensa alternativa dos tempos da ditadura quanto nos tempos da Nova República, quando entrevistou o motorista Eriberto que trabalhava para o então presidente da República, que foi decisiva para provar o crime de responsabilidade pelo qual perdeu a presidência e foi cassado.
Igualmente brilhante como marqueteiro criou as melhores campanhas políticas no Brasil e em vários países, nem sempre elegendo seus candidatos, mas esbanjando talento e criatividade.
Envolvido exclusivamente na criação vinte e quatro horas por dia, só se deu conta de que a empresa da qual era sócio recebia pagamentos não diretamente do seu cliente principal, o PT, mas de um de seus doadores, a Odebrecht, quando foi conduzido coercitivamente para a República de Curitiba, onde passou a ser tratado tão duramente, ou pior que os presos políticos dos anos de ditadura, pressionado e torturado psicologicamente para confessar seus crimes e delatar petistas de alto coturno, tais como o ex-presidente Lula e a presidente Dilma, condição que lhe é imposta se não quiser passar o resto da vida atrás das grades.
Ele tão somente produziu campanhas criativas, não apontou armas para seus concorrentes, nem desafetos, não ameaçou, não achacou, não feriu, e nem, obviamente matou alguém.
Note-se que, durante a ditadura de 64 nem mesmo os crimes de sangue cometidos por guerrilheiros empenhados em derrubar o regime – com exceção de uma punição com prisão perpétua – foram punidos, com base numa legislação penal de exceção, com penas tão duras quanto as atribuídas a Marcelo Odebrecht, Zé Dirceu, João Vaccari Neto e João Santana.
É também notório que, nos dias de hoje, um político que foi classificado como “delinquente” pelo Procurador Geral da República e confirmado como “delinquente” pela unanimidade dos 11 ministros do STF, acusado pelos crimes de chantagem, achaque, ameaça, corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, ocultação de bens etc etc que atende pelo nome de Eduardo Cunha foi tão somente afastado de suas funções de deputado e de presidente da Câmara dos Deputados, mas continua em liberdade, morando na mansão oficial, recebendo proventos polpudos, com direito a todas as mordomias a que tem direito, sem estar sequer sujeito a uma incômoda visita a Curitiba por estar blindado pelo foro privilegiado, cuja intenção – proteger políticos de acusações infundadas – transformou-se em casamata de fichas sujas de diversos naipes, envolvidos em cabeludas ações penais que se arrastam durante anos.
Que Justiça é essa que proporciona liberdade a chantagistas, maus caráteres, achacadores, delinquentes e delatores que em nada contribuem para o PIB econômico ou intelectual do país e condena aos porões de Curitiba, para todo o sempre, pessoas de caráter, de boa índole, talentosas, criativas, aptas a produzir somente pelo fato de terem ajudado o PT a governar o país?
Deixe um comentário