Eu assisti do início ao fim. Durante duas horas o tenente-coronel Raul de Souza tentou dirimir as dúvidas a respeito da queda do avião em que viajava Eduardo Campos, no dia 13 de agosto de 2014. Souza falou, falou, falou, mas não explicou o principal e o que todos querem saber. Afinal, não se pode afirmar que o avião caiu; ele se projetou contra a terra quase de bico a 700 km por hora, foi isso. O tenente explicou que isso pode ter acontecido por desorientação espacial do comandante. Ele pensou que estava subindo, mas estava descendo. Essa é muito boa! Descer e subir provocam reações diferentes no corpo humano. Todo mundo sabe quando está subindo ou descendo. Principalmente um piloto experimentado.
O tempo não estava ruim a ponto de ele se perder no espaço. Não havia tempestade. Caía uma chuva leve. Além do mais, era um piloto muito experiente, ex-comandante de jatos comerciais, não era marinheiro de primeira viagem. Ninguém precisa ser um ás do manche para saber fazer uma arremetida. Não é um bicho de sete cabeças. Eu sou um leigo no assunto e um verdadeiro covarde para subir num avião.
Depois de ver as imagens da queda, numa inclinação de 20 e poucos graus e naquela velocidade que falei acima, como se fosse uma flecha, eu entendi que, comparando com automóvel, aconteceu algo parecido com o piloto ter apertado o pedal do acelerador em vez do breque. Mas é claro que é uma explicação de leigo. O piloto – mais uma vez – tinha milhares de horas de voo nas costas, não ia errar de pedal de “subir” ou “descer”. (Sei que não é um pedal, falo no sentido figurado.)
A explicação mais factível até agora é a de Carlos Camacho, um expert contratado pelas famílias das vítimas. Em investigação paralela, sem a infraestrutura de que dispôs a equipe do tenente-aviador Souza, ele descobriu que um sensor da asa traseira desse tipo de avião apresenta exatamente esse problema: sem aviso prévio, aponta o avião para baixo quando o piloto o aponta para cima, sem que o piloto consiga reverter o procedimento. Exatamente o que ocorreu. Ele estava a 700 por hora porque queria subir para fazer a curva e depois tentar nova aterrissagem. Camacho disse ainda que a própria fabricante, a Cessna, avisa no manual que quando ocorre esse problema o jeito é rezar para que o avião esteja bem alto. Assim dá tempo de a queda ser estancada. Não foi o caso do avião de Eduardo Campos.
Não entendi uma coisa: por que as investigações do Cenipa e de Carlos Camacho não foram compartilhadas? Por que Camacho não avisou ao Cenipa o que diz o manual de instruções? Ou avisou e o Cenipa fez ouvidos moucos?
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