Muito se diz que o pai de todos os malfeitos políticos é o financiamento privado de campanha. Peço licença para discordar. A culpada é a forma de campanha, que exige o tal financiamento. Nós ficamos tão deslumbrados – vai ver – com a proclamação da democracia que não atentamos para os detalhes. Não percebemos que a legislação eleitoral, ao criar horários gratuitos de propaganda política na TV, cavaria um poço sem fundo.
O primeiro equívoco está na palavra “propaganda”. Propaganda é para sabonete, para carro, mas não para gente. Principalmente no caso de escolher a pessoa que vai integrar a classe dirigente do país. Não dá para escolher um deputado, um governador ou um presidente da República como se escolhe um sabão em pó.
A “propaganda” desinforma o eleitor, pois a sua essência é o elogio e não a crítica. Ao criar um espaço de “propaganda partidária” no mais poderoso veículo de comunicação do país, a legislação pariu um monstro, pois não informa a verdade ao eleitor a respeito dos partidos e dos candidatos e demanda caminhões de dinheiro para produzir o conteúdo desse espaço gratuito.
E esses caminhões de dinheiro têm de vir de algum lugar. O erro está na forma, e não no financiamento. Não resolve nada trocar o financiamento privado pelo público e a forma continuar a mesma, engolindo fortunas. E os partidos pequenos vendendo seus espaços para os grandes. Minha proposta é que todos os horários de “propaganda” gratuita partidária na TV e no rádio sejam substituídos por “debates políticos”, mediados por jornalistas tarimbados, isentos, com participação sempre de políticos de vários partidos Ao vivo, em rede nacional ou estadual ou municipal. Todos ganhariam. O eleitor vai saber o que o político pensa de fato A desgraça é que ninguém governa com teleprompter, nem o mandato é um clipe. Não sei se vocês já se deram conta de quantos desastres políticos a “propaganda política” produziu. Só o Duda Mendonça, já que estamos nele, produziu dois, que resultaram em milhões de reais de prejuízo para São Paulo: Paulo Maluf e Celso Pitta. Ele os embalou de tal forma que enganou o eleitor, essa é a palavra. A democracia é muito importante para ser pautada por publicitários. Debate político ao vivo não precisa de marqueteiros. Convoco para a tarefa de apresentar essa emenda à lei eleitoral algum deputado federal que não tenha medo da verdade ao vivo – nem dos colegas poderosos.
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