Em matéria de Vladimir ainda prefiro Lênin e Maiakovski, mas esse Putin está se saindo melhor que a encomenda. Ontem ele arrastou para Moscou uma enorme comitiva e mais o presidente da Ucrânia. Eu vi na CNN os trechos do encontro. O salão do Kremlin era um daqueles com detalhes ornamentais em ouro nas paredes. A mesa, de tão comprida, não cabia no enquadramento da câmera. Tentei contar quantas cadeiras eram de cada lado, mas desisti. Tinha, sei lá, uns 30 metros de comprimento.
Executivos russos e ucranianos frente a frente. E os dois presidentes. Discurso de um, discurso do outro. O ucraniano não estava com expressão de tristeza, não; estava feliz. Putin nunca consegue disfarçar aquele olhar de águia que, somado aos lábios finos como adagas, dão-lhe com justiça o título de Sr. Arrogância. No entanto, aquilo era uma demonstração de poder.
Em Kiev, centenas de milhares de ucranianos gritavam “não” a Putin. Mas, ele conseguiu arrastar a Moscou o seu líder e lhe dá aquilo de que a Ucrânia precisa: grana. Os ucranianos querem a União Europeia. Mas o que os combalidos europeus podem dar à Ucrânia? Grana eles não têm nem pra eles, vão dar à Ucrânia? A Rússia dá de dez a zero na Europa, é o que os ucranianos não percebem. Eles protestam porque no passado os russos mataram milhões de ucranianos. Mas isso é passado.
Putin mostrou, mais uma vez, que a revista Forbes acertou em cheio ao coloca-lo em primeiro lugar como o homem mais poderoso do mundo em 2013, deixando Obama em segundo. Comparem as performances. Obama termina o ano tirando fotos de colegial em acampamento de férias durante uma cerimônia fúnebre sob olhar reprovador da primeira-dama; Putin ganha a queda de braço com milhões de ucranianos. Tudo bem, muito do poder de Putin advém do fato de ser autocrático – ele não costuma consultar o parlamento para muita coisa. É a tradição russa, seja com czares, comunistas ou Putins. Sempre foi assim. Quando interessa à Rússia proteger a Síria, Putin não pede opinião dos deputados e senadores, ele mesmo vai lá e diz: não quero que ataquem a Síria. Obama, não, está sempre pedindo alguma coisa ao Congresso. Licença pra isso, licença para aquilo. Está certo, é democrático. Só que o comportamento democrático nem sempre é sinônimo de poder.
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