A governadora do Maranhão Roseana Sarney falou ontem pela primeira vez desde a divulgação das decapitações no presídio de Pedrinhas, administrado pelo estado. Sempre elegante em seu terninho branco – ela tem uma coleção – fez duas afirmações que vão ficar para sempre no anedotário político nacional, e só não provocam risos porque o assunto é trágico. Disse ela:
– O Maranhão está atraindo empresas e investimentos. Um dos problemas que está piorando a segurança é que o Estado está mais rico, o que aumenta o número de habitantes.
É assombroso. Nunca se viu a segurança piorar em alguma cidade, estado ou país que ficou mais rico. A regra é o oposto. A segurança piora nos lugares mais pobres. Compare a violência da Suíça com a do Iraque. Segundo, como ela pode afirmar que o estado ficou mais rico e a população aumentou se os números oficiais do IBGE a desmentem cabalmente em todos os indicadores sociais? A saber:
O IDH do Maranhão (0,683), equivale ao IDH do Brasil em 1980. Ou seja, o estado, pelo critério do IDH ainda não saiu dos tempos da ditadura. Está 23 anos atrás do Brasil. É o vice-lanterninha dos 27 estados brasileiros nesse quesito, só ganha de Alagoas.
O Estado tem o segundo maior índice de mortalidade infantil (39 mortos em um ano por 1000 nascidos); só ganha de Alagoas. Tem a segunda pior expectativa de vida do país. Também só ganha de Alagoas. Segundo números de 2009, 40% das crianças entre oito e nove anos são analfabetas, o pior índice do país (média de 11,5%).
Tem ainda o maior déficit habitacional relativo do país (38.1) segundo a Fundação Getúlio Vargas.
Qualquer estudante de sociologia conclui que a piora da segurança deve-se a esses números dramáticos e não um suposto enriquecimento ou aumento da população. Pode-se chamar de superpovoado um estado com 331 mil km2 e 6.794.298 habitantes (um terço da população da cidade de São Paulo)?
A outra declaração da governadora é igualmente chocante e revela uma insensibilidade raramente vista em mulheres:
– Até setembro estava dentro do limite que se esperava – referindo-se a 39 mortes com decapitações em nove meses. Mais de quatro por mês.
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