Convivem dentro da mesma cidade, geridos pelo mesmo ente – o governo do estado de São Paulo – uma universidade sempre listada entre as melhores do mundo (a USP) e uma rede de colégios sempre listados entre os piores do Brasil. Por quê? Acho que estou começando a entender agora que matriculei meus filhos de 17 anos num colégio estadual – o que é um horror para nós da classe média. Eles me contaram alguns detalhes que dão o que pensar. Eu sempre estudei em escolas públicas, desde o primário. Nunca recebi – nem eu, nem meus colegas – uniforme, material ou merenda. As famílias podiam comprar uniformes, cadernos, comida. No colégio, então, nem se pensava. O estado nos dava bons professores e não lápis ou biscoitos. A diferença entre a escola que eu frequentava e a que frequentam meus filhos é essa: a escola deles fornece cadernos, bolacha, suco e até almoço grátis – para quem quiser, mas em especial para quem logo depois das aulas vai trabalhar. O que isso quer dizer? A escola pública não é para todos – como era nos anos 1960. É para os pobres. Por isso tem que dar lanche, tem que dar caderno, tem que dar almoço. Em vez de bons salários para professores. A classe média tem que usar colégio particular. Claro que isso não aconteceu com o propósito de piorar o ensino; pesquisas devem ter mostrado que se tudo isso não fosse oferecido a evasão escolar seria muito grande. Não sei até que ponto as despesas com uniforme (no primeiro grau), comida e material contribuem para achatar os salários dos professores, mas ao menos parte da resposta pode estar aí. Ah, não precisava nem dizer: a USP também não fornece material ou comida grátis – e sim a baixo custo – mas não economiza com laboratórios e professores.
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