É preciso que os senadores, que se preparam para confirmar ou rejeitar o impeachment da presidente Dilma, em agosto, se debrucem sobre a questão nos aspectos político e econômico. E tenham em conta quais serão as consequências não para eles ou para seus partidos, mas para a maioria dos brasileiros.
Do ponto de vista político está claro que o impeachment não tem nenhum fundamento jurídico, nem pedalada nem adiantamento por conta do Plano Safra são crimes de responsabilidade.
É, portanto, um golpe, não um golpe de estado, mas um golpe parlamentar, cujo objetivo é tirar do poder, sem eleições, uma presidente e um partido de esquerda, para colocar, em seu lugar, um presidente e um partido de direita.
No jargão futebolístico, seria como ganhar no “tapetão”.
É ilegal, é antidemocrático, é inaceitável. Os senadores que assinarem embaixo estarão ferindo o juramento de respeitar a constituição que fizeram ao tomar posse.
Seus mandatos ficarão manchados para sempre com a nódoa antidemocrática.
Do ponto de vista econômico as perspectivas, ao que tudo indica, também são negativas. Há sinais de que a economia, em vez de melhorar, como tem sido o “wishfull thinking” da imprensa tradicional e do governo provisório, tende a piorar.
É o que prevê, com base em fatos e não em desejo, não um petista de carteirinha, nem um militante do “Fora Temer”, mas um economista tarimbado, equilibrado, com larga experiência na prática – ex-ministro de dois governos – e na teoria, autor de mais de 90 livros, chamado Luiz Carlos Bresser-Pereira, ao flagrar a guinada autoritária e neoliberal do governo provisório.
O neoliberalismo foi abandonado em todo o mundo porque não deu certo, diz ele, e será inócuo para o Brasil retomar o crescimento econômico.
Além disso, se confirmado, o governo Temer, por ter provocado um “arranhão na democracia” vai trazer maior instabilidade política, segundo Bresser-Pereira:
“Temer e a turma dele resolveram, eles que nunca foram neoliberais, adotar um discurso e, se possível, uma política, uma tática rigorosamente neoliberal. Quando o mundo, lá fora, está abandonando o neoliberalismo. Desde 2008. Você vê por toda parte o aumento da participação do estado, o aumento da proteção do estado às empresas nacionais, ao comércio nacional, isso você vê em toda parte. Por que? Porque esse neoliberalismo não deu certo. Não só econômica, mas também politicamente. E o Brasil resolve voltar ao neoliberalismo nesse quadro. É patético. Isso não dá certo em lugar nenhum. Agora é a direita que está lá no poder, quer dizer, nós vamos ter baixo crescimento e agora uma instabilidade política maior. Porque esse golpe não acabou com a democracia, mas tornou-a muito mais instável. É um arranhão muito sério na democracia que vai custar caro”.
Os senadores, agora responsáveis pela decisão final, devem levar em conta de que lado estão, antes de definir seu voto: ou contra ou a favor dos brasileiros.
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