Depois de dois meses, tirei meus filhos de 17 anos da escola pública. Suas queixas eram diárias.
A professora de Inglês não fala inglês. Os portões só abrem quando toca o sinal, os alunos têm que esperar do lado de fora, faça chuva ou faça sol. O professor de Artes é legal, mas falta muito. Como ganha pouco, tem que se virar por aí. Tem mesa de ping-pong, mas não tem raquete nem bolinha.
Os professores faltam tanto que foi criada a figura da “professora eventual”. Ela não leciona uma matéria específica, sua tarefa é manter os alunos na sala, basicamente, conversando com eles. “Vou confessar uma coisa a vocês” disse, certo dia, a professora eventual “eu tenho preconceito. Eu tenho preconceito contra japoneses”. A “professora” apontou um aluno de olhos puxados e começou:
– Você é japonês, não é?
– Não, sou coreano.
– Mas é tudo a mesma coisa. Em casa vocês só falam em coreano, não é?
– Não.
– Ah, mas a maioria dos coreanos fala, sim.
Mas o que mais me indignou foi um aviso pregado na parede do hall de entrada da escola anunciando vagas para aprendizes. A mensagem é clara: trabalhe enquanto estuda. Foi então que, estupefato, entendi tudo: trata-se de uma política de estado. Escola pública é para pobres; da classe média para cima, é colégio particular.
O ensino público estadual em São Paulo não é mais universal, como era quando eu tinha a idade dos meus filhos, não visa mais formar as grandes cabeças da ciência e da cultura.
Fico perplexo, isso acontece na maior e mais rica cidade do país, capital do estado mais rico e mais pujante. Quantos talentos o estado estará desperdiçando! Cheguei à cidade em 1958, com nove anos. Comecei a trabalhar aos 16. Tendo contribuído todo esse tempo para o crescimento da minha cidade e do meu estado – e como cresceram! – não consigo receber em retribuição uma escola pública digna e eficaz para meus filhos. Não vou contar como pude matriculá-los de novo numa boa e velha escola particular. Porque foi um milagre. E muitos não acreditam em milagres.
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