E agora me aparece esse principinho! Era só o que faltava! Claro que desejo saúde e felicidade ao novo membro da família real britânica e congratulo os pais. Mas não aguento o júbilo ao redor do mundo. Afinal, o moleque- quando e se for entronado- apenas reinará sobre os cerca de 70 milhões de cidadãos do Commowelth- e ainda assim mesmo, nem todos o levarão a sério nesses territórios. O restante do mundo não estará sob seu império. E mesmo assim…Estão festejando agora a chegada desse pequeno pacote de felicidade, como se fosse ele o Messias.
Aqui em Nova York os pubs ingleses- sim, por que há diferenças entre os botecos dos comandados de Saint George e os irlandeses- já fazem promoções para saudar o rebendo real. Isso, diga-se, num país que colocou os ingleses a correr e faz questão de celebrar com fogos e churrascos essa expulsão, a cada 4 de julho. Mas quando se trata de trono, ao que parece, dá uma enorme saudade e inveja nos “yanks”.
Repare só nos detalhes da vida plebéia americana. Foi aqui que surgiu a moda de emprestar realeza aos detalhes mais corriqueiramente burgueses. Inventaram: “ o Rei do Hamburguer”, “o Rei do Hot Dog”, “a rainha do Strip-tease”, e dá-lhe monarca! Isso, claro, para nem tocar no assunto de uma aristocracia canhestra: John Wayne, por exemplo, o maior caubói- talvez o maior americano de todos os tempos na opinião dos nativos- tem apelido de “Duke”. Trata-se, comprovadamente, da nostalgia da corte perdida.
Na terça-feira, 23, no rádio do carro ouví um painel de comentaristas expeculando quem poderia ser o Rei ou a Rainha dos Estados Unidos. Não chegaram a nenhum nome, é claro. Mas fizeram uma força danada. Na seleção pesou o critério do sangue azul- o chamado direito divino à realeza. Não foram considerados os méritos pessoais de cada um dos 300 milhões de habitantes da terra. Não senhor! Teria de ser geneticamente ligado ao trono. E, daí, não teve para ninguém. Nada de “o Rei da linguiça” ou, caso houvesse aqui: “o Rei da Cocada preta”. Vão ter de se contentar com um presidente. E negro, para desgosto da chamada “aristocracia sulista”.
É um grande disperdício esse frenezí monarquista. O homenageado não está nem aí para os festejos. E quando for coroado- caso seja um dia- o mundo estará em outra onda. Imagine que o avô, Charles, já está idoso e sequer parece ter muita esperança de que sua mãe, a bisavó do bebê badalado, entregue a rapadura.
Já que a garantia ao trono é fruto hereditário imagina-se que qualquer presunção do moleque recém chegado terá esperar por longa data. Afinal, seu bisavô- esse sim um Duque de verdade (no caso, de Edinburgh)- recentemente completou 92 anos e dá sinais de que estará de corpo presente aos festejos de seu centenário. Sua Alteza Elizabeth II tem 87 anos- que, diga-se: não aparenta, apesar de seu guarda-roupa atroz- e leva jeito de que é imortal. O Príncipe de Gales- vovô Charles- deve seguir as mesmas pegadas e quando finalmente agarrar o cetro, seguirá vivo por mais um século. Depois dele tem o papai William com, imagina-se, o mesmo material genético prenhe de longevidade. Desse modo, o recém nascido permanecerá príncipe pelo tempo equivalente àquele dos movimentos das placas tectônicas. Haja paciência!
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