Quando estive no Brasil, em junho, minha mulher me pediu para que trouxesse de volta aos Estados Unidos pílulas ou pó de açaí. Procurei em todos os lugares, mas só encontrei suco ou concentrado congelado da fruta. Eu não estava disposto a explicar ao funcionário da alfândega que aquele líquido roxo permeando as roupas da mala não era ingrediente de bombas ou nova forma de droga. Desse modo, voltei de mãos abanando. A santinha que mora lá em casa, ao receber a notícia de meu insucesso, foi à internet e mostrou dúzias de sites oferecendo comprimidos e poeira de açaí, já devidamente embalados. Ou seja: os planos – que vim fazendo no avião – de comércio do produto, devidamente desidratado por mim, foram para a cucuia. Algum espertinho correu na frente e deve estar enchendo-se de grana.

O sucesso do açaí, por aqui, é algo comparável apenas ao das antigas pet rocks – pedras comuns, que um malandro comercializou como “companheiras de estimação” durante os anos 1970. Vendeu montanhas desse artigo esdrúxulo. A mim, caberia a triste resignação de tentar ganhar uns trocados escrevendo. Para o resto da vida.

Isso até que abri o armário da cozinha numa manhã inspiradora. Dei de cara com uma caixa de cereais Kellogg’s. Como numa tira de cartum, uma lâmpada acendeu sobre minha cabeça. É claro!, pensei, vou seguir os passos do Dr. John Harvey Kellogg!

Antes que alguém pense que vou fazer sucrilhos de açaí – o que, por sinal, não é uma ideia de se jogar aos porcos – já adianto que não tenho os milhões de dólares necessários para fundir a fruta brasileira em flocos de milho, embalar tudo, transportar, fazer o marketing, etc. Caso possuísse esse capital, não estaria tentando ganhar a vida escrevendo. O brilho comercial do velho Kellogg não estava apenas em suprir desjejum às massas. Homem de sete ofícios – e bota ofício nisso – ele também manteve durante muitos anos um spa, em Batle Creek, Michigan. Recomendo o filme The Road to Wellville (1994), do diretor Alan Parker, com os atores Anthony Hopkins e Mathew Broderick, para quem deseja maiores informações sobre o sanatório do bom doutor. Lá ele procurava arrancar, na marra, as toxinas literalmente entranhadas em seus pacientes. Seu sistema básico consistia em aplicar enemas na freguesia.

É isso aí: enemas de açaí. Vou montar uma clínica onde a fruta da moda será utilizada na lavagem interna dos pobres-diabos com maus bofes. Um, digamos, lava-a-jato de cólon. O detergente antioxidante será essa frutinha milagrosa de nossas selvas. Em meu spa, as mulheres, por exemplo, já recebem de cara uma “Brazilian Waxing”- a depilação radical que nós brasileiros transformamos em moda globalizada. Com os cumprimentos da casa, claro. E por que parar apenas no açaí: nossas árvores dão muito mais frutos. Para os sem energia: um cristal de guaraná. E dá-lhe umbu, araçá-azul, pitanga, carambola, fruta-do-conde, caju (nesse caso seria o caju amigo-da-onça), e vai até mandioca para quem se fizer de besta. Aí no Brasil vocês têm açaí na tigela. Aqui teremos açaí na tarraqueta.


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