Reprodução.
Reprodução.

Já mencionei neste espaço que sou muito bom na arte da pedrada. Com uma pedra de bom tamanho e a uma distância razoável, sou capaz de acertar alvos dos mais ariscos. Note-se que nunca matei passarinho, ou qualquer outro animal, embora tenha lascado pedrada em algumas aves abusivas. Nada que as detonassem: apenas mandei recados para que as criaturas não se fizessem de besta. Detesto coisas voadoras que “se acham” e são metidas.

Uma delas, certo tipo agressivo de ave na Austrália, quase me cegou num razante inesperado e injusto. O bicho veio direto à meus olhos. Eu estaria dando uma de pirata, não fosse ter ouvido uma vozinha celeste que me disse segundos antes do ataque: “Coloque o óculos escuro!”. Obedecí e me salvei. A penosa atrevida – na verdade um macho – foi para cima de um orelhão, na cidade de Darwin, e preparava-se para nova arremetida. Sua crista empinada, a la punk de subúrbio, telegrafava intenções assassinas. Eu estava sentado num café a céu aberto e sobre um piso de pedregulhos. Não precisei de toda aquela munição: uma pedra só me bastou. Antes do “stuka” dar nova rasante, mandei-lhe o míssel que acertou o alvo em cheio. Não coloquei força suficiente para feri-lo, mas demonstrei que alí tinha artilharia digna de medalha. Como diz o sabido ditado: “Pssarinho que come pedra, sabe o que lhe advém”.

Contou-me a dona do cafe que aquele tipo de passarinho é muito ciumento e o que me atacou estava em companhia de sua namorada. A béstia maluca cismou que eu estava afim de traçar sua franguinha. Pode?

Em parques infantis levei à miséria todo barraqueiro que se dispôs a pagar com bichos de pelúcia minha capacidade de derrubar latas e garrafinha ou quebrar pratos. Minha filha sempre teve quarto abarrotado com um zoológico de criaturas fofinhas vindas dos estoques de parques de diversão. Era a pequena pedir: “Papai, quero aquele Scooby Doo tamanho natural!” e eu não resistia aos olhinhos pedintes: mandava pedra e amealhava o bichão. Um pobre atendente me implorou para que não levasse um pônei palomino que era a grande atração e chamariz de sua tenda. De fato o animal não faria feio em nenhum haras. Apesar de supostamente ser um pônei, tinha as dimensões de um Jeep Gran Cherokee. O monstro ainda ocupa espaço precioso no quarto de uma filha que já não mora no recinto há anos. As manchas das lágrimas do ex-dono parece que se apagaram com o tempo.

Programa 60 Minutes.
Programa 60 Minutes.

Tendo em conta esse histórico de artilheiro implacável é com grande entusiasmo e, confesso, impaciência que espero a chegada dos drones que a Amazon lançará ao espaço para a entrega de seus produtos. Jeff Bezos declarou ao programa 60 Minutes da tevê que já está em fase de testes seu sistema Prime Air que utiliza engenhocas voadoras para levar às portas dos lares americanos toda bugiganga que sua empresa vende. Já se vê e escuta o choro e ranger de dentes daqueles poucos inocentes que ainda se apegam ao velho conceito da privacidade. Será mais um artefato xereta a rondar sua vizinhança. Sim, porque não se pode acreditar que os drones vão apenas entregar pacotes. Para essa tarefa existem há séculos os baixinhos. Mas, claro, a máquina terá também a função de bisbilhotar em nome da Amazon.

De minha parte digo entre dentes, no estilo Clint Eastwood: “Make my Day, Punk!”. Ou, como diria meu tio Zézão: “Manda vim!”. Meu estoque de pedras já está no paiól de munição. Levarei Bezos à falência.


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