Em agosto de 2008, um policial do vilarejo de Proctor, nordeste do Estado americano de Minnesota, testemunhou a colisão de dois veículos. Um Toyota Camry estava estacionado, quando foi atingido por outra viatura errante. Durante as diligências sobre o acidente, o patrulheiro verificou que o motorista culpado estava embriagado. Imediatamente, foi aplicado um teste de sobriedade, que indicou 0.29% de conteúdo alcoólico no sangue do condutor – ou seja, três vezes superior ao limite permitido por lei. Anotou também no boletim de ocorrência que o transporte usado pelo piloto bêbado era uma poltrona reclinável motorizada, dita da marca “La-Z-Boy”.
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O bólido tunado, capaz de atingir 50 km por hora, fora especialmente costumizado pelo proprietário. A espreguiçadeira, de faux couro preto, é acoplada a um cortador de grama. Possui sistema de som moderno, é decorada com pintura especial de frisos, tem faróis, lanternas e um providencial porta-copo. O motorista alterado, Dennis LeRoy Anderson, 62 anos, confessou que acabara de sair do bar Keyboard Lounge, onde consumira oito ou nove cervejas (ele não recordava ao certo a quantia). Explicou também que o meio de transporte era muito conveniente, já que permitia viagens de ida e volta, desde a frente da televisão na sala de sua residência, até o bar. Apontou como maior vantagem o fato de não precisar se levantar em nenhum momento. Fato que eleva ao paroxismo a metáfora: “piloto de sofá”.
Autuado em flagrante, Dennis foi preso, teve seu veículo apreendido, e depois foi liberado sob fiança para aguardar julgamento. Em outubro deste ano, o Meretíssimo juiz Heather Sweetland, da sexta Corte de Justiça do Estado, proferiu sentença amarga: 180 dias de cadeia, seguidos de dois anos de liberdade condicional, e perda da “La-Z-Boy” locomotiva. Ordenou ainda, que o veículo – que não sofrera danos – fosse colocado a leilão, cuja arrecadação reverteria para os cofres públicos. Esclareceu, no decorrer do processo, que o argumento da Defesa – de que a lei seca não se aplicava a poltronas – não era procedente. O código de Minnesota dita a proibição de “dirigir enquanto intoxicado” se aplica a qualquer viatura.
Dennis foi para a cadeia municipal. E após a martelada do juiz Sweetland, a espreguiçadeira enfrentaria o martelo do leiloeiro. As autoridades de Proctor optaram pela modernidade e facilidades da hasta pública eletrônica. Colocaram anúncio no site eBay, com a foto da cadeira automotiva e texto que dava o histórico do item, abotando a marca: “La-Z-Boy”. Imediatamente, os lances se acumularam, atingindo US$ 43.000,00. Tratava-se de quantia equivalente aos lances vencedores para um Porsche Twin Turbo, ano 2003, com pouca milhagem, ou a um 2006 Maserati Quattroporte Executive GT, com minguadas 15 mil milhas. Infelizmente, a oferta da poltrona teve de ser suspensa. Um observador arguto notou que a carroceria da mobília móvel não era uma legítima “La-Z-Boy” (marca favorita do consumidor americano) e, portanto, a publicidade era enganosa.
O site eBay concordou com a denúncia e melou o leilão. O xerife Walter Wobig, da cidade de Proctor e responsável pela venda, foi obrigado a corrigir o texto, anunciando o item apenas como “DWI Chair” ( , ou, na tradução livre, cadeira da direção sob influência). Essa alteração provocou reação adversa do público. Na segunda tentativa, os lances atingiram apenas US$ 6.800, 00 – quantia suficiente apenas para arrematar um Ford Pinto, 1971, com pintura nova, mas milhagem desconhecida. A municipalidade de Minnesota deixou de faturar uma bela quantia pela falta de pedigree da espregiçadeira. Já a paramédica Sue Graber – a primeira a acorrer ao local do acidente para atendimento de emergência – conseguiu no eBay, US$ 21,50 por seu autógrafo numa foto pessoal, tomando café e sentada numa comprovada “La-Z-Boy”. Já Dennis, até a terça-feira (10), ainda na cela que ocupa, pedia US$ 25,00 por sua foto no veículo. Mesmo com o autógrafo trêmulo, garantindo autenticidade da imagem e procedência, ele não havia conseguido qualquer oferta.
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