Americano tem mania de criar cobra no peito. Veja o caso de Saddam Hussein, que era bichinho de estimação, até sair do controle e virar monstro a ser exterminado. Agora, a metáfora da serpente desce ao pé da letra com consequências não menos trágicas. O modismo de pegar jiboias para servir de criação doméstica, há anos explodiu nos Estados Unidos, e já causa sufoco. No princípio de julho, uma menina de dois anos foi esmagada, na Flórida, por uma piton da Indonésia de cinco metros de comprimento. O animal não conseguiu seu intento de comer a criança, mas foi por pouco. E este é apenas um exemplo recente dos problemas vistos naquele estado.
Duas semanas depois da tragédia com a menina, uma comissão de cientistas foi à área do Everglades National Park para ver de perto a emergência de um insuspeitado serpentário na região. O histórico do problema passa pelo descarte de animais que são pegos como companheiros domésticos, mas ao crescerem demasiadamente e exigirem quantidades cada vez maiores de alimentos, tornam-se indesejados. Seus donos acabam soltando as feras nos mangues e matas floridianos. As estimativas são de que existam dezenas de milhares desses animais tomando conta da região. Ao ponto de já estarem ameaçando os crocodilos – e outros bichos nativos.
A emissora da National Geographic mostrou um filme onde uma jiboia da Indonésia devorou um crocodilo do tamanho de um Buick 56. Quem se lembra do livro O Pequeno Píncipe, e viu a ilustração de uma cobra que engoliu um elefante, terá uma ideia do resultado do repasto da serpente e seu formato. Viam-se claramente os contornos do jacarezão na pança do monstro. Pois a cobra, de tão cheia, ficou no mesmo lugar onde havia feito a refeição. Literalmente jiboiando. Veio outro crocodilo e comeu-lhe a cabeça e parte do rabo. O que sobrou foi material de que são compostos os pesadelos. Parecia que alguém tinha colocado uma camisinha escamosa num jacaré. Ou, era uma linguiça, como dizem na Louisiana: um Bodin de Jacaré.
As sucuris, especialmente aquelas importadas da Indonésia, mas também algumas brasucas, estão aprontando tanto, que uma comissão parlamentar dos Estados Unidos foi ver in loco o problema. O senador floridiano Bill Nelson (republicano) examinava um exemplar de 10 metros de comprimento, quando a fera (a serpente, e não o senador) o atacou. Foram necessários 10 homens para evitar que a cobra comesse a porcaria. Depois disso, Nelson enviou ao Secretário do Interior, Ken Salazar, uma carta pedindo regulamentação para a caça dos ofídios não indígenas do Everglades. Quer empreender imensa matança dos bichos.
Já vi tudo: vão dar mais variedade ao cardápio das cobras. A malta equipada com as melhores roupinhas de expedicionário, soldados de operações especiais no deserto, piratas, ninjas, vikings e outras fantasias ao gosto do imaginário de idiotas, partirão para o mangue. As jiboias, que têm cérebro do tamanho de um amendoin, portanto maior do que a massa encefálica dos Tarzãs que as procuram, terão rebu pantagruelico com os recém-chegados. Para os intrépidos cobreiros, as sucuris já mandam “aquele abraço”.
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