Na segunda-feira (2), comecei a escrever algumas linhas sobre a muito antecipada vitória dos Yankees no campeonato de beisebol de 2009. Faltava, então, uma única vitória contra os Phillies – da Filadélfia – para liquidarem a fatura. Naquela noite, os dois times se encararam na Pensilvânia e deu uruca para os nova-iorquinos. Não pude terminar a crônica como queria. A decisão ficou para outros dois jogos no Bronx. Melhor assim, caso vençam uma única partida, os Yankees levantarão em Nova York a taça – que na verdade parece mais uma escultura de mesa de arquiteto.
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Para mim, tudo bem. Não sou fanático por beisebol, mas acompanho pela imprensa o progresso dos times da cidade, no caso os Mets e os Yankees. E tenho muita simpatia pelo esquadrão do meu bairro. Afinal, posso praticamente caminhar até o Yankee Stadium. Bastaria uma peregrinação de 30 minutos para estar diante dos portões monumentais do glorioso templo.
Sempre dei sorte de morar perto de grandes estádios. Durante anos dormia a poucos quarteirões do Pacaembu – meu predileto. Também, por um curto período, tive o Morumbi como vizinho. E há aproximadamente vinte anos tenho a casa dos Yankees na minha freguesia. Na verdade, atualmente conto com dois campos ao meu dispor. O velho Yankee – que será demolido até 2010, e o novo que foi construído recentemente – com incentivo de US$ 1,5 bilhão dado pelos contribuintes, ou seja, meu dinheiro.
Para cada um desses templos dos esportes, tenho um histórico de ligação direta. O Morumbi, por exemplo, foi erguido com ajuda de meu pai. O velho dentista era são-paulino e, durante anos, cuidou dos dentes dos jogadores tricolores. Como parte do pagamento por esse trabalho, recebeu título de sócio remido do clube – o que incluía usufruto das instalações pelo filho corintiano. Também agarrou duas cadeiras cativas exatamente defronte ao meio-campo, e com plaquetas de bronze com os nomes do dr. Osmar e de seu descendente traidor. Vi a casa do São Paulo crescer, sendo construída enquanto a bola já rolava solta no gramado pronto. Foi lá que testemunhei, com estes olhos que a terra há de comer, o Timão quebrar a seca de títulos, em 1977, com o gol de Basílio. Para desespero do diretor desta revista, as cadeiras da família Freitas foram vendidas pelo titular há uns cinco anos. Hélio Campos Mello teria comprado esse patrimônio, caso soubesse que estava dando sopa. Teria sido um consolo saber que os assentos, de onde vi tantas tragédias e vitórias corintianas, estavam agora acomodando gente amiga, ainda que torcendo para o time errado.
Já o Pacaembu, foi praticamente casa de minha família. Meu tio Zézão, trabalhou ali. Joguei uma gloriosa partida entre jornalistas e artistas naquele gramado. Meu pai tratava da boca de Maria Esther Bueno, a tenista maior do Brasil, que mereceu estátua diante dos portões principais. Foi lá que vi o fim do tabu de 11 anos sem vitórias contra o Santos de Pelé, em 6 de março de 1968. Paulo Borges, contratado a peso de ouro, fez um dos gols (o outro foi de Flávio). Depois disso, o ponta-direita não precisava fazer mais nada no time. E foi o que fez, ou o que não fez. Pendurou as chuteiras e por algum tempo, se não me engano, foi funcionário do estádio.
Quanto ao Yankee Stadium (assim mesmo, no singular), testemunhei a retirada do camisa do rebatedor do Boston Red Sox, David Ortiz, lacrada em uma coluna do estádio, por Gino Castignoli, torcedor do time de Massachusetts. O sujeito arranjou um emprego de peão nas obras da nova casa dos campeões do Bronx, apenas para fazer a mandinga. Só que contou a bravata em um bar de Boston. O barman, embora em terras hostis, era yankee desde criancinha. Pegou o telefone e delatou o sacrilégio para os nova-iorquinos. A diretoria do time juntou gente armada de britadeiras, e arrancou-se a uruca no pilar de cimento armado. Gastaram US$ 50 mil nesta empreitada. Leiloaram depois a peça do feitiço e faturaram US$ 150 mil. E eu estava lá na operação de contra feitiço.
Go Yankees!
Em tempo: Na noite de quarta-feira (4), o time dos Yankees acrescentou o 27º título de “Campeão Mundial de Beisebol” à sua fabulosa galeria. Vamos deixar de lado o tal “Campeonato Mundial”, que só é internacional porque dele participa um único time canadense – o Toronto Blue Jays. Nada de esquadrões do Japão, Cuba, Porto Rico, Venezuela, Coreia, República Dominicana, México e outros fortes praticantes do esporte inventado nos Estados Unidos. O que importa, agora, é que os rapazes do Bronx liquidaram a fatura contra os Phillies (da Pensilvânia), no sexto jogo de uma série de sete. Vai ter parada no “Canyon of Heros” (o Desfiladeiro dos Heróis) – trecho da Broadway que vai da Bowling Green (na zona financeira de Manhattan) até a City Hall Park (onde está a prefeitura da cidade). A festa, diga-se, não saiu barata. A folha de pagamento desta “franquia esportiva” é de US$ 208.097.414 – ervário maior do que o produto nacional bruto de algumas pequenas nações.
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