Li recentemente na Folha de São Paulo, que cientistas estão tentando transformar uma galinha num dinossauro. Um certo professor Jack Horner, da Universidade de Montana, escreveu um livro, How to build a dinosaur (Como construir um dinossauro), mostrando que teoricamente isso é possível. Teria ficado aí uma obra apenas curiosa, não fosse o arregaçar de mangas de outro cientista. O professor Hans Larson, da Universidade McGill, no Canadá, já está batendo suas asinhas neste campo. Incorporando o espírito do Dr. Moreau (personagem da obra de H.G. Wells), Hans manipula embriões de penosas com o objetivo de fazê-las voltar ao período Jurássico. Não sei não…

Prevejo desastres. Imagine um frango do tamanho de um ônibus. Atentem aos perigos impostos pelo híbrido. Se nascer macho, um galossauro, ao raiar do dia, acordará gente entre Montreal e Nova York com seu cacarejar. E quem vai segurar este galinhossauro? Não me digam que uma cerca de arame será suficiente para deter as andanças da béstia. Já posso vê-la correndo, ciscando pessoas, pelas ruas. O cientista maluco diz que o animal não terá bico, que reverterá em focinho sobre arcada dentária que – imagino – fará vergonha a um tubarão branco. As patas terão dedos, ainda que sem um polegar em oposição ao mindinho, pai-de-todos e fura-bolo. Isso impedirá que a criatura manipule ferramentas e progrida a ponto de fundar uma civilização. Mas quem precisa de dedão, quando tem um esporão com dimensões e capacidade de corte de uma foice?

Dizem que o mais difícil será fazer o rabo. E daí? Com um cotoco o galinhossauro poderá ser mais ligeiro, sem o incômodo da cauda. Vão dizer que esta parte da anatomia é necessária para o equilíbrio do bichão. Mas uma galinha moderna tem apenas um rabicho e corre muito bem. Sei disso porque fui, na mais tenra idade, perseguido e atacado ferozmente por uma chocadeira. No sítio de meu tio-avô Juca, fui ver uns pintinhos e a mãe deles se ofendeu. Só quem passou por drama semelhante pode testemunhar a humilhação advinda de tomar carreirão de uma galinha.

Para mim, as únicas experiências adequadas a frangos estão resumidas ao campo culinário. O animal deve vir sem cabeça, pés ou penas, com o pescoço enfiado na cavidade torácica junto com os miúdos. Tudo isso deve estar meio congelado e empacotado em plástico. Quem irá torcer o pescoção de um galinhossauro, limpar as entranhas, empacotar e congelar? Calcule a quantidade de temperos para marinar o monstro, para não falar nada sobre o tamanho do forno que irá assá-lo. Parece inevitável que o cozinheiro acabará sendo devorado pelo que seria o ingrediente principal da receita. Eis aí o verdadeiro prato de resistência: resiste a ir para a panela.

Que raio é essa obsessão com dinos? Essas feras foram extintas há milhões de anos, ponto final. Conformem-se! Quer ver béstia jurássica? Vá ao Universal Studios, em Los Angeles. Tem cabines hidráulicas que mostram filmes em realidade virtual, dando impressões exatas de como é ser perseguido por um T-Rex. A experiência é tão estonteante que, quando fui a um brinquedo desses, vi um grupo de mexicanos cambalear e cair no chão, depois de sair da cápsula. O diretor de Brasileiros estava comigo e pode atestar a veracidade do ocorrido. E olha que era tudo faz de conta. Imagine um tete-a-tete com um galinhossauro em carne e osso.


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