É impressionante a verificação na prática do funcionamento do inconsciente coletivo. O conceito, criado pelo psiquiatra suíço Carl Jung, trata da camada mais profunda da psiquê humana, e faz parte do jargão da psicologia analítica. Hoje em dia, ficou fácil verificar manifestações desse fenômeno, de modo quase instantâneo, por meio dos tráfegos das redes sociais da internet, particularmente no Twitter. Exemplo claro veio com a desconfiança generalizada de que Mick Jagger é um tremendo pé frio.

A mesma sacada me ocorreu assim que os americanos perderam para Gana. E seria confirmada com a derrota da Inglaterra nesta Copa. Em ambas as partidas, o roqueiro mais velho da galáxiaeestava torcendo pelos fracassados, nas tribunas de estádios. Pensei que somente eu havia intuído a geleira que serve de pedestal ao ídolo. Essa presunção foi por terra assim que dei uma olhada na internet. Já havia até movimento popular clamando pela ausência de Jagger no jogo entre Brasil e Chile. Sabia-se que o abominável homem das neves estaria engrossando a charanga brasileira, juntamente com o filho Lucas. Houve quem dissesse que a CBF implorara para que o cantor não colocasse seus artelhos em sincronia com o futebol canarinho.

Na verdade, o temido frigorífico foi ao jogo e seus pés serviram apenas para gelar as cervejas da comemoração da vitória brasileira. Mas o importante nessa história não é a suposta urucubaca do pinguim inglês, e sim a reação universal a uma percepção. Note-se que os brasileiros não estavam sozinhos nesse balaio. Os ingleses imediatamente reclamaram da frente fria proveniente do polo sul de Jagger, que teria atingindo em cheio o time da majestade deles lá. Aqui nos States, sugeriram que no próximo show dos Stones, o cantor dance como nas competições de patinação no gelo. Não precisaria sequer das lâminas. E os argentinos estavam felizes, pois alegavam que um inglês jamais torceria pelo time de Maradona.

De todo modo, é bom que os brasileiros passem a entrar em campo com aquele jaquetão de Michael Jackson envergado pelo técnico Dunga. Jagger vai continuar indo aos estádios, prenunciando frente fria. Só com aquela gola olímpica que a rapaziada usa debaixo da canarinho, não vai dar para encarar a temperatura subártica.

Jung tinha razão: as massas pressentem forças fora da realidade aparente. E eu, que nunca fui de acompanhar Twitter e blogs, virei macaco de auditório na rede. Por ora, tem boi na linha do inconsciente coletivo: não apareceu nenhuma nova certeza clara como a do Jagger. Mas não vai ficar nisso: vem mais sacadas por aí.


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