No dia 22 de novembro próximo se completará o cinquentenário da morte de John F. Kennedy. Antigamente a maioria das pessoas se lembrava exatamente onde estava e como recebeu a notícia do assassinato do 35ᵒ presidente americano. A ponto da lembrança ter virado jogo de salão. Hoje em dia, com a média de idade no país atingindo meros 36.8 anos, pode ser difícil achar alguém que sequer saiba quem foi o homem. Já encontrei pessoas para quem o nome evoca apenas o aeroporto de Nova York. Uma amiga de minha filha, mocinha de 24 anos, disse-me que o batismo do aeródromo era uma homenagem a seu construtor. Claro que não é isso. O lugar, aliás, chamava-se Idlewild até 23 de dezembro de 1963.
Eu me lembro muito bem aonde me encontrava quando recebí a informação sobre o crime. Estavamos, minha mãe e eu, no Vale do Anhangabaú, quase esquina da Avenida São João, quando ouvimos um sonoro “OOOHHH!”. Era o som do susto provocado no povaréu pelo painel luminoso de notícias que havia no local. Anunciara a morte do presidente americano, muito conhecido e, não sei bem por que, querido dos brasileiros. Pegamos um ônibus até em casa, na rampa do túnel da avenida 9 de Julho, e nos preparamos para a chegada de meu pai. Este, abatido e sorumbático, bateu de primeira: “Que tragédia!..Isso é coisa de comunista!”. E não estava sozinho nesse vaticínio: durante muitos anos desconfiou-se que o assassinato havia sido encomenda de Fidel Castro.
Para aqueles que acham que JFK são as iniciais de arquiteto de aeroporto ou que Fidel mandou matar o líder americano, este período agora pode ser revelador. As editoras estarão, nos próximos meses, despejando uma avalanche de livros a respeito do presidente e, para quem não lê mais do que 140 catacteres, a televisão mostrará quantidades nauseantes de documentários. Será o festival “Tudo o que você queria, ou não, saber sobre John F. Kennedy”.
Pelo que diz a crítica especializada, as obras não são lá essas coisas. A maioria dos livros não traz novidades- com exceção de um ou dois- e as teorias conspiracionistas continuam a todo vapor. De minha parte, passarei ao largo desse fenômeno. Não há mais nada que eu queira saber sobre o homem, seu assassino ou a cidade de Dallas. Estou plenamente convencido de que o maluco Lee Harvey Oswald foi o franco atirador, único, e agiu por conta própria. E mais: Kennedy não era santo, ainda que não fosse o diabo, e sua presidência, caso houvesse continuado, teria elevado o envolvimento no Vietnã, como o fez seu sucessor Lindon Johnson.
O glamour de “Camelot”- como era chamado o círculo íntimo do governo Kennedy- tinha muito mais a ver com a corte de jornalistas deslumbrados que ele mantinha à sua volta, do que com as sábias decisões daquela administração. Aqueles que dizem que “A América perdeu sua inocência com o assassinato de JFK”, insultam não apenas o povo dos Estados Unidos, como a História. Querem dizer que os americanos não foram conspurcados pelo Mal antes disso. Apesar da guerra de independência, dos anos de escravatura, da guerra civil- conflito que mais matou cidadãos do país em todos os tempos-, dos assassinatos dos presidentes Abraham Lincoln, James Garield e William McKinley, de duas bombas atômicas jogadas sobre populações civis, e de outros pecados capitais menos notáveis.
O povo americano é extraordinário exatamente porque sabe que a inocência é atributo de quem não viveu.
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