Me dá um dinheiro aí!

Agora que Barack Obama assumiu a presidência, vamos ver se ele se toca e para de me pedir dinheiro. O homem parece o personagem mendigo incorporado por Moacir Franco na antiga Praça da Alegria. Seu hino deveria ser a marchinha “Me dá um dinheiro aí!”. Não passa uma semana sem que eu receba uma tentativa de mordida via e-mail. A culpa, claro, é minha. Durante a campanha eleitoral, fiz cinco contribuições – entre US$ 25 e US$ 50 – para o candidato democrata. Desde então, tenho sido confundido com um caixa eletrônico. Estou pensando em mudar meu endereço na internet para tô.duro@revistabrasileiros.com.br.

Eu havia imaginado que depois da vitória, Obama fosse parar de passar o chapéu. Recebi até uma mensagem de agradecimento, onde o recém-eleito me tratava pelo primeiro nome e dizia que se não fossem meus estipêndios, ele jamais teria chegado ao posto mais poderoso da Terra. Fiquei sensibilizado e com a impressão que este seria o fim de nossos contatos. Que nada! Uma semana depois, lá estava na caixa postal um pedido de 25 doletas para ajudar a cobrir as despesas de campanha de Hillary Clinton. Respondi: Ora, ela é rica, perdeu a corrida, que pague do próprio bolso.

Sete dias depois disso, veio outra facada: queriam US$ 25 para ajudar nas despesas das festas da posse. Agora, vira e mexe, vem convocação para meu patrocínio do evento. Será que eles acham que eu fabrico cerveja? Quem banca folia é a Brahma. Como não me cocei, tentaram nova estratégia: se eu soltasse a grana, concorreria a um ingresso para presenciar a cerimônia. Ou seja: estavam vendendo bilhete de loteria. O grande prêmio não implicava cadeira do lado, digamos, da Oprah, do Robert Gates, ou mesmo de um palhaço como o Clarence Thomas. Nada de camarote aquecido: a recompensa era um pedaço de calçada, longe do palco, em meio a um frio capaz de congelar o inferno. E não garantia a estadia, numa cidade onde os hotéis estavam lotados há meses. Eu teria de ir dormir no sofá da sala da minha sobrinha Patrícia, e a Sarah, a cachorrinha dela, não iria gostar disso.

Do jeito como anda a mendicância presidencial, pode contar que não vou ter sossego nos próximos quatro ou oito anos. Só para o novo pacote de incentivos para a economia, Obama quer mais de US$ 800 bilhões. Já vejo chegar um e-mail dizendo: “Osmar, você sabe que a economia foi para o vinagre. Mais do que nunca o presidente Obama conta com sua generosidade. Clique no link abaixo e faça um donativo para o pacote que salvará o país. Você tem opções que vão de US$ 25 bilhões a US$ 100 bilhões. Ao fazer essa doação, um banco poderá ser rebatizado com seu nome, dependendo de uma loteria feita entre os colaboradores”. Diante de minha recusa, é capaz de mandarem o vídeo de um Barack bravo, cantando: “Não vai dar?/ Não vai dar não? Você vai ver a grande confusão./ Eu vou beber, beber até cair/ me dá, me dá, me dá/ Ô/ Me dá um dinheiro aí”.


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