Os indicadores econômicos americanos apontam para o apocalipse. Somente no mês passado, mais de meio milhão de pessoas perderam seus empregos. O Índice de Confiança dos Consumidores – termômetro da economia doméstica – demonstra baixas acentuadas. Milhões de pessoas tiveram suas poupanças e aposentadorias esvaziadas na quebra da Bolsa. Os analistas certificaram o óbvio: os Estados Unidos estão em recessão. Dizem que as vendas de Natal serão as piores desde o tempo do onça. No entanto, quem desafia a razão e vai às compras encontrará parada dura na competição. Nas lojas e shoppings de Nova York, tem gente saindo pelo ladrão.

Na madrugada do Thanksgiving Day (feriado laico americano) uma malta ensandecida esperou durante toda a madrugada para aproveitar a liquidação numa superloja Wal-Mart, em Long Island. A clientela ficou enfrentando o frio na frente do estabelecimento. Antes que os funcionários pudessem abrir as portas, a turba forçou a entrada, atropelou e matou um guarda de segurança. As pessoas continuaram no ritual de compras, mesmo depois de as autoridades terem anunciado a tragédia e pedido para que se esvaziasse o recinto. Depois da reabertura, à tardinha, os retornados demoliram as prateleiras.

Em outras filiais da Wal-Mart a cena se repetiu, mas sem deixar mortos. As vítimas foram mulheres grávidas, crianças pequenas e velhos. Seriam atendidos em hospitais regionais. Voltaram à refrega em pouco tempo, ainda que tenham perdido oportunidades, como, por exemplo, uma boneca Barbie por US$ 20 e um televisor flat por US$ 350.

Na Herald Square de Manhattan, a loja de descontos H&M anunciou a venda de estoque limitado de roupas com design da famosa marca Comme Des Garçons. Tratava-se de coleção especial – um subproduto – com preços para freguesia dura. Foi um faniquito de juntar polícia. As filas para a abertura à caça davam volta em quatro quarteirões. O estoque acabou em menos de uma hora. Teve gente que saiu ferida, mas com um pacote na mão.

A loja virtual Amazon está com vários produtos esgotados. Nada barato: coisa como câmera digital de US$ 120, e filmadora ultraportátil em alta definição, a US$ 230. O mesmo ocorre com outros vendedores da internet. Os Correios já avisaram que as entregas vão atrasar e Papai Noel só chegará depois do dia 25 de dezembro.

Só encontro uma explicação para isso. A turma está dura, mas ainda tem cartão de crédito. E está todo mundo viciado no consumo. Como cocainômanos, não conseguem se controlar. Os economistas calculam que em 2010 a dívida do povo americano, somente em cartões, estará na casa do trilhão de dólares. Fico me perguntando onde é que vão guardar tanta porcaria comprada. Sim, porque estão sendo despejados, perdendo as próprias casas, e não vai dar para enfiar tudo no porta-malas do carro. Mesmo porque, os veículos também estão na mira dos cobradores. Em breve, vai-se poder pegar bonecas Barbie, tevês flat e filmadoras portáteis largadas nas calçadas.


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