Vocês brasileiros que ficam reclamando dos flanelinhas nas ruas das cidades têm mais é que ler jornal! Principalmente os classificados dos diários londrinos. Para quem acha que é um roubo pagar R$15, R$20 ou até R$50 por uma vaga na rua, sob a vigilância de um sujeito com colete cor de laranja, é aconselhável a dar uma olhada no preço dos estacionamentos na capital inglesa. No último dia 13 foi colocado à venda um espaço numa garagem na área de Kensington. Valor: R$ 6.389.000. Isso mesmo: mais de seis milhões, ou 2.5 vezes o preço de um bom apartamento na região central de uma das cidades com metro quadrado mais caros do planeta.
É verdade que a garagem tem vaga para dois carros. Mas, pensando bem, devem ser espaços suficientes apenas para um par de Mini Coopers, aqueles utensílios domésticos que os ingleses chamam de automóvel. É também notório que o endereço é nobre: um subterrâneo no Royal Albert Hall. Trata-se da sala de concertos mais prestigiada da Grã-Bretanha, inaugurada pela rainha Vitória em 1871 e, desde então, hospedeira dos maiores nomes da música mundial. Mas pagar mais de seis milhas para estacionar alí… Nem para ver um show dos Beatles, com as ressurreições de John Lennon e George Harrison e com show de abertura do tenor italiano Enrico Caruso, também trazido do mundo dos mortos.
Ora, se alí pertinho, a duas quadras da vaga milionária tem um estacionamento público onde se para um automóvel durante 24 horas por R$ 140,04. É caro, claro, mas pense no flanelinha brazuca que cobra 50 paus para “tomar conta” de seu carro, por duas horas, perto de uma casa de espetáculos. Na Inglaterra está mais em conta, não é não? Nesse local alternativo, as mais de seis milhas são suficiente para o motorista largar a viatura alí por 31 anos. O que deixa de ser “veículo estacionado” e passa à categoria de “cápsula do tempo” para ser aberta no futuro por curiosos ou colecionadores.
E por que alguém pagaria mais de seis milhões para ter duas vagas perto do teatro? Sei lá! Inglês é excêntrico. Em todo caso, no mesmo subterrâneo de luxo foi vendido, há 10 meses, um espaço pela bagatela de R$ 3 milhões. Saiu, como se vê, por menos da metade do preço de agora, o que prova que bolha imobiliária brasileira não é a mais louca do planeta. Nesse quesito ela pega o segundo lugar. Por mim, eu compraria uma cobertura na Vieira Souto e, quando fosse a um show no Albert Hall pegaria uma primeira classe na British Airways, um quarto no Claridge´s, em Mayfair, e um daqueles enormes taxis londrinos até Kensington. Ou, se morasse em Londres, punha o dinheiro à juros andaria de condução.
Deixe um comentário