Devido à crise econômica mundial, várias comunidades implementaram programas de revisão de metas. Em Dubai – um dos sete emirados árabes unidos – projetos ambiciosos foram arquivados, depois do debacle financeiro que caiu como praga do Egito sobre o território. Depois de terem construído o maior prédio do mundo e uma ilha artificial no formato de uma palmeira do tamanho de Manhattan, as autoridades afirmam que infelizmente vão interromper outras obras, como a réplica ampliada do Palácio de Versailles.
A ideia inicial previa uma reprodução feita de gelo. Desde o prédio, propriamene dito, até objetos decorativos e mobiliário. O empreiteiro, xeique Mohammad Al-Tantã, já havia até colocado a pedra fundamental na estrutura. Tratava-se de um bloco – pesando oito toneladas – de água mineral com gás, solidificada. Derreteu duas horas e meia depois de assentada nas areia escandandes do deserto. Para corrigir o problema de evaporação da matéria-prima, já se contratara uma empresa filandesa fabricante de gigantesca bolha plástica climatizada. Agora, com a falta de recursos, os planos foram arquivados. “Estou sem dinheiro até para as pedras de gelo do meu uísque”, confessou o xeique Al-Tantã.
No recém-inaugurado shopping center de luxo, com espaços mais amplos do quea cidade de Huston, já não se veem pessoas comprando toneladas de artigos como o favorito narguilé esculpido em bloco maciço de platina. A empresa Rolex fechou sua loja exclusiva, que oferecia apenas estoque de carrilhões feitos em ouro e cravejados de pedras preciosas. A proprietária da loja feminina, especializada em burcas confeccionadas com notas de US$ 100, diz que as vendas cairam 60%. “Vamos nos adaptar aos tempos e oferecer novas criações, como as burcas feitas com notas de US$ 50”, diz a comerciante. Nesse quadro, apenas a concessionária de Ferraris voadoras – também chamadas de Enzocópteros – continuam fazendo negócios. Porém, sem a lista de espera de três anos, como tinham até 2008.
E não é apenas no Oriente Médio que a recessão destrói projetos. Em Las Vegas, que era o município de maior crescimento nos Estados Unidos até 2008, os canteiros de obras estão parados. O famoso Cassino Rio planejava erguer um parque temático, copiando fielmente a cidade do Rio de Janeiro. Pararam na metade do Pão de Açúcar, que era, ao pé da letra, a pedra fundamental do projeto. A empresa já estava abrindo as inscrições para a contratação de funcionários. Somente para as posições de moradores das favelas – que serviriam também como garçons, copeiras, cozinheiros, faxineiras, etc. -, havia perspectiva de assimilação de quatro milhões de pessoas. Isso, sem contar com travestis, prostitutas (legalizadas no Estado de Nevada) e batedores de carteiras. “Hoje em dia, não dá nem para reproduzir o Leme”, diz Nick Bonamigo, chefe do setor de projetos do cassino.
Como os negócios vão mal para as empresas, os novos bairros de subúrbio que apareceram no deserto, como cactos, também foram queimados. Bairros maiores do que a Lapa paulistana estão abandonados. São milhares de mansões com privadas com manilha de ouro puro e acarpetadas com vison. Destinavam-se a funcionários menores dos cassinos. Agora, as moradias estão entregues às baratas e fabricantes de metanfetamina que chegam de motocicletas – ambos dos grupos. “A esperança é a de que as gangues e as baratas fiquem sem dinheiro para a gasolina das motocas”, diz o xerife Joe Bonamigo, da mesma famiglia do chefe de projetos do Rio.
“O negócio agora é ir para a China. A turma de lá é louca por jogatina. E a procura por apartamentos com quarto, penico e espiriteira é muito grande”, diz Nick Bonamigo. “Em Vegas, agora, miragem não é apenas nome de cassino. Também se refere aos sonhos que tínhamos para esse encantador pedaço de deserto”, choraminga o empreiteiro.
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